segunda-feira, novembro 06, 2006

Dedicatória

Caríssimo Soares Feitosa: Li o seu poema – Dedicatória – e senti logo o desejo de lhe falar com toda a franqueza. Aliás você já sabe o juízo que faço dos seus versos: poesia da melhor que se faz atualmente no Brasil. Fico-lhe muito obrigado pela gentileza de me ter enviado os planfetos com o material que será publicado em livro. Os poemas, ensaios e entrevistas ali selecionados revelam uma inteligência ágil e o claro conhecimento dos assuntos enfocados. Embora alguém discorde [cf. comentários sobre 3 poetas goianos conversam com o editor do Jornal de Poesia], como já disse o Nelson, toda unanimidade é nula, aliás, mula. Seu poema feito de ‘tarde em sol’, exprime-se com uma grande riqueza e originalidade de síntese. Há na sua poesia um compromisso entre o verso livre e a metrificação. Percebe-se mesmo, nos seus escritos, que o ideal de perfeição é trabalhado através da organização do texto. Para você o poema [e a prosa também] só será uma obra de arte se a representação atingir uma forma adequada e criativa [sinto isso]: se ela for ‘simétrica’. Não sei se você é autocrítico rigoroso – desses que praticam várias revisões e mesmo refundições de um mesmo texto – mas dá pra perceber que você é um tanto brunidor, embora espontâneo, natural. Alguns de seus poemas lhe garantem um nome duradouro em nossa poesia, porque figuram entre as melhores e mais saborosas interpretações da alma nordestina-brasileira-universal. Acho que a melhor poesia do Nordeste do Brasil está nas trovas dos cantadores populares, nos versos de Catulo da Paixão Cearense e Patativa do Assaré, nos poemas dos pernambucanos Ascenso Ferreira e João Cabral de Melo Neto, e do alagoano Jorge de Lima. É essa equivalência que vejo na sua poesia. Quero que você saiba que não estou fazendo louvor lisonjeiro. É apenas o que sinto ao ler sua poesia e sua prosa. Receba um abraço e disponha do amigo e admirador.
Vicente Freitas