quarta-feira, abril 28, 2010

LANÇAMENTO

Sobral que Não Esqueço

de Lustosa da Costa


Data: 29 de abril de 2010 (quinta-feira), às 19h


Local: Centro Cultural OBOÉ (rua Maria Tomásia, por trás do Banco do Brasil da Santos Dumont)

Lustosa da Costa: "Sou um escritor que experimenta intenso prazer em conviver com os velhos personagens da Historia de Sobral."
FOTO: Viviane Pinheiro - Diário do Nordeste


Sobre Sobral que Não Esqueço

Tenho quase certeza que o Lustosa, filho de “seu” Costa que, por sua vez era filho do Chico Bento que matava porco no Morro do Moinho e de dona Vitalina, não é apenas um. Não sei onde encontra tempo para se aventurar em escrever mais livros!

O fato é que, ainda esta semana, chegou-me às mãos mais uma de suas aventuras, encapada pela figura da fazenda Pocinhos, da família Monte, descida da pena de Campelo Costa e de uns recortes de cartas antigas e de reclames: “Novidades!” Assim eu li...

O livro — Sobral que não esqueço — mais uma rasgada declaração de amor à cidade onde não nasceu, é fruto da mistura de lembranças do autor, mas com a diferencial evidência de uma criteriosa pesquisa em jornais locais ou mesmo nacionais, muitos deles, atualmente extintos: O Nordeste, A Tribuna, A Lucta, Jornal do Comércio, Gazeta de Notícias, Correio da Manhã, Correio do Ceará, Correio da Semana, Folha do Povo, A Cidade, O Rebate e outros.

Desta vez o cronista e jornalista trabalharam juntos, de pertinho, costurando uma pesquisa investigativa à ótica e humor de cronista inteligente que Lustosa o é.

A Sobral do livro não passa inteira pela janela que assistiu o crescimento de L.C. Dividido em blocos, como A Cruz e o Couro, Quando Sobral Dividia sua Gente, Seca em Sobral, Paladar Sobralense, Usos e Costumes etc. (são onze ao todo), o autor, com os pés dependurados nos galhos de fícus, discorre sobre os mais diversos aspectos que marcaram o passado, e daí cutuca as feridas no século XX, e que decidiram o futuro que hoje se vê com toda a sobralidade divulgada aristocraticamente ao universo (“Não sou universal, sou apenas municipal”). Sobral pensa grande, assim como o veterano “sobralense”...

Fico a imaginar o que move um homem sempre no sentido de sua cidade que, para o Lustosa, numa tradução poética e com toda licença, “não é uma cidade, é uma saudade chorando baixinho em mim”. Assim, como no livro, antes de revelar-se um pesquisador atento, deixa escoar pela branquidão de suas páginas, as memórias meninas de escadarias de madeira do Palácio do Bispo, das cadeiras nas calçadas ao som da velha amplificadora, do teatro São João, dos banhos de bicas dos “jacarés”, cujas águas alimentavam o Acaraú, das histórias do Chico Monte, do Educandário e do Seminário Apostólico São José e da imagem bonita, quase de cinema, dos olhos voltados às noturnas telhas de vidro e da manta que, de tão ordinária, espinhava. Pronto: o leitor está cativo!

Pesquisar não é tarefa fácil. Temos sempre a nítida impressão de que poderíamos encontrar algo mais, uma nova peça de quebra-cabeças que traduzam com exatidão aquilo que nós queremos, como em tela, apresentar. O enfeixamento tem de ser bem feito, senão o leitor desagrada logo. Não é o caso, e daí o mérito, de Sobral que não esqueço. Primeiro porque mesmo sem ser da Princesa do Norte, o leitor facilmente agarra-se à mão do livro e se deixa levar por histórias interessantes que representam uma época de desenvolvimento de um Ceará, de cartolas e em pó de arroz de Belle Époque, com direito, inclusive a pormenores de cardápios de entrée de panelada à brasileira, petit pois ao molho picante, ponche de abacaxi ao chartreuse e champã Veuve Chiquot ao som de magnífica orquestra.

Tudo em Sobral... tem cara de fotografia. A cultura, a economia (que vem desde a época da pecuária e da “Civilização do Couro”), a religião (sempre bem detalhada com seus bispos e dons pelo ex-seminarista e admirador da inteligência dos homens de batina como Dom José Tupinambá da Frota, Monsenhor Linhares, Dom José Bezerra Coutinho e outros), o racismo, a aristocracia, os costumes (estes que perpassam por todos os blocos e que, na minha opinião e gosto, é o que melhor ilustra o texto), as histórias, os chistes, a publicidade (rico detalhamento de estratégias de marketing rudimentar), a política (aí, nem se fala...), as secas, e, ao final, capítulo a parte, “Gente da Gente, um apanhado de figuras e histórias espirituosas da cidade do Beco do Cotovelo: Francisco de Paula Pessoa — senador dos bois —, Joaquim Miranda Paula Pessoa, José Leôncio Pessoa de Andrade, José Saboya, Francisco de Almeida Monte, Teodoro Ziesmer, Vicente Loiola, Clodoveu Arruda, Emilianinha, “Seu” Costa (é claro), e mais outros tantos protagonistas de causos desta cidade tão escancaradamente amada pelo amigo Lustosa.

Ler Sobral que Não Esqueço, me fez lembrar também um pouco do que sou — do que somos — e marcou-me de uma saudade do que não vivi, uma saudade boa de conversa de calçada, daquelas que a gente quase não vê mais. Quase, ainda bem. Viva o Lustosa!

Raymundo Netto

terça-feira, abril 27, 2010

Política & Poesia

Ciro Gomes, o Poeta O deputado Ciro Gomes terá hoje seu destino nas eleições 2010 selado por seu partido, o PSB. Inconformado com o que deve ser anunciado formalmente – que ele estará fora da disputa presidencial –, o deputado postou em seu site trecho de um poema bastante utilizado por quem critica o autoritarismo. O crédito dado por ele, no entanto, está errado.

Apesar de o poema se chamar No Caminho, com Maiakóvski, o russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930) nada tem a ver com a autoria do texto, como afirma Ciro Gomes. O poema é de autoria do poeta fluminense Eduardo Alves da Costa e diz:

“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada".

O poeta carioca Eduardo Alves da Costa já esclareceu que o poema usado pelo deputado Ciro Gomes (PSB) no blog é de sua autoria. Costa, que está em Paris, afirmou que o equívoco em relação ao verdadeiro autor do trecho “está mais do que explicado”.

No dia em que o PSB deve enterrar de vez sua candidatura à Presidência, Ciro publicou o poema no blog e atribuiu o trecho ao poeta russo Vladimir Maiakóvski. O poema do carioca Eduardo Alves da Costa remete ao poema Intertexto, do autor alemão Bertolt Brecht (reproduzido abaixo). Os dois, por consequência, teriam buscado inspiração em um texto do alemão Martin Niemöller, pastor luterano.

Costa explicou ainda que a confusão começou por causa de um equívoco de Roberto Freire: “ele usou o referido fragmento como epígrafe de seu livro ‘Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu’ erro esse corrigido por ele posteriormente". O autor convidou o deputado a consultar o livro Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século XX, que traz o poema que se tornou símbolo da luta contra a ditadura militar na década de 1960.

Polêmicas Ciro havia criado grande polêmica com o partido quando questionou no artigo A história acabou?, publicado no mesmo site. Integrantes da direção do partido não gostaram do “tom agressivo” de Ciro.

A avaliação é que, na legenda, o “ambiente piorou” para ele. O deputado pressionou o partido e, em tom de desabafo, subiu o tom das críticas em relação ao próprio PSB. Ciro perguntou: “O PSB é um ajuntamento como tantos outros, ou a expressão de um pensar audacioso e idealista sobre o Brasil?”.

O PSB deve anunciar o apoio formal à candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. A decisão foi tomada na semana passada, durante conversa entre o governador Eduardo Campos e o presidente do partido, líderes do PSB e o próprio Ciro.

Na noite de quinta-feira, Ciro admitiu que estava fora da disputa. No entanto, o PSB convocou os 18 membros do diretório nesta terça-feira para dar caráter oficial à decisão.

Confira os poemas, na íntegra:

No caminho com Maiakóvski Eduardo Alves da Costa Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói, assim me aproximo de ti, Maiakóvski. Não importa o que me possa acontecer por andar ombro a ombro com um poeta soviético. Lendo teus versos, aprendi a ter coragem. Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história. Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na Segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror. Os humildes baixam a cerviz; e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos. No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante; mas amanhã, diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir. Olho ao redor e o que vejo e acabo por repetir são mentiras. Mal sabe a criança dizer mãe e a propaganda lhe destrói a consciência. A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo e me pedem que aguarde até que a Democracia se digne a aparecer no balcão. Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar, que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais. Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio. Mas ao tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar até o último grão de trigo. Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós. Dizem-nos que é preciso defender nossos lares mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados. E por temor eu me calo, por temor aceito a condição de falso democrata e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num sorriso, esconder minha dor diante de meus superiores. Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - mentira!

Intertexto Bertold Brecht (1898-1956) "Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego Também não me importei Agora estão me levando Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo".

Martin Niemöller "Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar".

Poesia no Brasil, pra ser divulgada, é preciso que um político faça referência, mesmo errando o nome do autor. É triste...

Ao usar esta notícia, faça referência, cite a FONTE: Texto disponível em http://vicentefreitas.blogspot.com