segunda-feira, maio 12, 2014

Retalho histórico da vida religiosa de Cruz

Capela


Consta digno de registro histórico, no Livro de Tombo da Paróquia
Igreja Matriz de Cruz
de Nossa Senhora da Conceição em Acaraú, a transcrição de uma carta de Dom Joaquim José Vieira, então 2º Bispo do Ceará, data-da de 14 de setembro de 1885, que enaltece a pessoa de Francisco Bernardino Albuquer-que, designado como instituidor pelo seu empenho na dispo-nibilização de seus próprios recursos, bem como, na captação de mão de obra junto à pequena comunidade de Cruz, para a edificação da capela consagrada que foi a São Francisco.

No já distante ano de 1884, no vigésimo dia do mês de dezembro, a pequena capela, recém erguida, foi abençoada solenemente pelo Pe. Vicente Giffoni Patrício e com participação de pessoas vindas da Paróquia de Acaraú, onde juntamente com a comunidade local, trouxeram nesse dia, em procissão, a imagem de São Francisco de Assis que pode ser vista no altar da nave principal de nossa Matriz.

No paroquiato do Pe. Sabino de Lima Feijão foi efetuada uma grande reforma, transformando por completo a acanhada capelinha no ano de 1934 a 1938, reforma esta que foi confiada à responsabilidade de Urbano José da Silveira.

Além do empenho de Francisco Bernardino Albuquerque, há que se ressaltar a participação de Albano José da Silveira e o apoio da comunidade da bucólica e minúscula povoação, que apesar da pobreza, não se acanharam ante o grande desafio, de naquela época, edificar ainda que muito pequena, a capela que viria a se transformar em uma das mais belas e confortáveis igrejas do Vale do Acaraú.

Com uma reforma estrutural que veio a mudar por completo as feições interna e externa, mas sem fugir do plano original, que lhe confere traços de uma arquitetura colonial. Obra realizada no paroquiato do atual vigário, Monsenhor Valdery Rocha.

Paróquia
 Na então Vila de Cruz, no ano de 1943, por iniciativa do Pe. Jose Inácio Mendes Parente sonhou-se com a criação da Paróquia de São Francisco da Cruz, que teve como seu maior entusiasta, Celso Araújo, que juntamente com vários outros ilustres da época,  tomou frente da empreitada, que de certo, não seria, como não foi fácil.

No ano de 1950, o sonho de ver elevada a Capela de São Francisco a categoria de paróquia foi retomado por um grupo formado pelos cidadãos Francisco Pereira de Sousa, Miguel Albano da Silveira e Raimundo Costa Sousa, que tiveram apenas a preocupação de captar o depósito que a Diocese de Sobral estabelecia como cota, no valor de cem contos de réis, que deveria ser convertido em patrimônio para a futura paróquia.

Todavia, a situação de pobreza da comunidade era grande, que se retratava em um lugarejo com poucas casas, com um mercado público com comércio quase inexistente. A quantia se tornava ainda se tornaria mais vultosa por conta da grande seca que sobreveio no seguinte ano de 1951.

Afora isso, ainda tinha a comunidade de Caiçara, que àquela época, era bem mais “estruturada” do que Cruz, e formalizou uma comissão que pressionava o então Bispo, de saudosa memória, D. José Tupinambá da Frota, para a criação da paróquia com sede em seu território.

Cogitou-se também, no ano de 1956, por ocasião da celebração do Jubileu de Prata Sacerdotal do Pe. Sabino de Lima Feijão, o intento de elevar a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Acaraú em uma nova sede episcopal, assim, era condição primeira, a criação na região de um maior número de paróquias, o que tornou mais próximo o sonho de ver Cruz elevado a categoria de matriz.

Com as duas comunidades, Cruz e Caiçara, disputando a elevação, D. José, designou um jovem, que já naquela época, se destacava por seu espírito de liderança e disposição empreendedora nas atividades que executava como seminarista menor. José Edson Magalhães era a pessoa, que o velho Bispo encarregara da função de estudos e dinamização dos trabalhos pró-paróquia de Caiçara. Com a de Cruz, a função ficou com Pe. Sabino.

O então vigário de Acaraú, Pe. Sabino, vendo as dificuldades que o jovem seminarista, José Edson Magalhães encontraria em seu mister, principalmente no deslocamento, á época, a distante Caiçara, trabalho que de certo exigiria constante acompanhamento, sugeriu-lhe a troca das funções delegadas. No que prontamente foi aceito pelo menorista.

Sabia-se que a elevação da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Acaraú, à sede de diocese, era um sonho mais que distante, um quase devaneio do velho Monsenhor Sabino. O que estava mais próximo de ser realizado na verdade, era a criação de uma nova paróquia na Matriz de Acaraú, mesmo diante das negativas de D. Jose Tupinabá, que apontava entre outros empecilhos, a falta de padres. Entretanto, agora a situação mudara, o ano era o de 1958, ano em que o jovem seminarista, aquele que funcionou como articulador pró-paróquia acabara de ser ordenado no dia 19 de janeiro, de sorte, que ventos agora sopravam com mais força as velas do projeto de criação da paróquia de Cruz.

Era sabido que o pai do neo presbítero, Joaquim Magalhães, gozava de prestígio junto a Cúria Diocesana, tanto, que sua influência, ainda que não diretamente, pesou de sobremaneira na decisão de D. José Tupinabá, quando da criação da Paróquia de Cruz em detrimento a de Caiçara, já que era condição primeira para a elevação de uma das capelas, a disponibilidade de um padre que quisesse assumir e residir em tão pobres e ermas vilas, e, claro, que Joaquim Magalhães atuaria, como atuou, usando até mesmo como contrapartida os fortes laços de amizade que existia de muitas décadas entre seu avô Coelho de Albuquerque e D. José, para que seu filho ficasse em Cruz, próximo dos seus.

E essa foi a argumentação que os membros da comissão pró-paróquia de Cruz expuseram quando sugeriram o nome do Pe. José Edson Magalhães, para assumir a paróquia a ser criada.

É fato, que Joaquim Magalhães foi peça preponderante no convencimento do Bispo, motivando Miguel Albano e outras personalidades nesse intento. Isso se pode ser facilmente comprovado com o relato de pessoas desta nossa cidade de Cruz que foram contemporâneos desses acontecimentos e, que contam com riquezas de detalhes todo o histórico do movimento de criação de nossa Paróquia. Dentre alguns, mesmo marcados pelo peso dos anos, ainda gozando de prodigiosa memória – verdadeiros arquivos vivos que não se furtam de uma boa conversa sobre o assunto, onde eles versam pelos anais de nossa história, nos levando ao passado – repito – com tanta riqueza de detalhes, que é como se fossemos transportados para o cenário dos acontecimentos e quase que, estivéssemos lá através de suas narrativas.

Destes, podemos citar: Valci Costa, Osmundo Lopes, Isa Muniz, Iracema Vasconcelos, Dalvina Muniz, Edílson Fabião, entre outros.
Finalmente então, após quase duas décadas, no dia 17 de março do ano 1958, D. Jose Tupinambá da Frota, assinava a portaria de elevação da Capela de São Francisco da Cruz a dignidade de Paróquia.

Os fatos que se seguiram a este ato, foram os mais profícuos  de nossa história recente, que de uma maneira profunda, mudaram a vida social, religiosa e cultural de Cruz, ato contínuo da benção dos dois paroquiatos que tivemos – Pe José Edson Magalhães e Pe. Manoel Valdery da Rocha, este ainda em vigência, e, com a certeza da providencia divina, muitos anos ainda há de durar.

Paroquiato de José Edson Magalhães (06.04.1958 a 05.09.1965)
Em seu livro: Um sonhador… Um realizador, Maria de Lourdes Vasconcelos (Lurdinha), que iluminada, tão bem relata os fatos da vida de Monsenhor José Edson Magalhães. Um registro impecável, com preciosidades da vasta e riquíssima biografia de nosso primeiro vigário, dedica um capitulo inteiro, e que servirá de base bibliográfica para o capítulo deste escrito, a passagem do “semeador” à frente de nossa Paróquia.

Transcrevo na íntegra, o primeiro parágrafo da página 49 do livro supra, que relata a nomeação do então Pe. José Edson Magalhães, a saber:
“Desígnio de Deus para uns, destino para outros; a verdade é que, aos 19 de março, dia de São José, no Palácio Episcopal, à hora do Almoço, presentes o clero da cidade de Sobral, Pe Sabino de Lima, vigário de Acaraú e Pe. José Edson Magalhães, a pedido de Dom José, o Pe. Francisco Austregésilo de Mesquita, então reitor do seminário, depois bispo emérito de Afogados da Ingazeira – PE, hoje falecido, lia a portaria de nomeação, lavrada no dia anterior, do Pe. José Edson Magalhães para vigário da nova Paróquia de São Francisco da Cruz, terra de Antonio Teixeira Pinto e Francisco Rodrigues de Oliveira Magalhães, seu avô paterno”.

Então aos seis dias do mês de abril, daquele abençoado ano de 1958, em uma manhã festiva para a população da pequena comunidade de Cruz, tomava posse, em missa solene o jovem “semeador” Pe. José Edson Magalhães.

Estava começando ali, um longo processo que viria a transformar a provinciana mentalidade sócio-cultural das famílias cruzenses, presas ao paradigma de uma Igreja com moldes ainda medievais, que tinha agora, um jovem e culto padre, com a missão de fazer a “passagem” para as novas diretrizes do Concílio Vaticano II, tirando a aristocrática e inatingível figura do padre, para uma nova, com mais cara de povo, mais próxima, mais pastora…

E assim foi, o paroquiato de Pe. José Edson Magalhães – O Semeador, que se aqui fôssemos relatar tudo quanto foi idealizado e concretizado por ele, não nos seria possível um compêndio de sua ação frente a nossa Paróquia.

Paroquiato de Manoel Valdery da Rocha (12.09.1965 aos dias atuais…)
 A então pequena comunidade local, ainda ressentida com a transferência do Pe. José Edson Magalhães para a paróquia mãe de Acaraú, recebia agora com grande júbilo o jovem Manoel Valdery da Rocha, recém sagrado em ordenação sacerdotal, filho de Morrinhos, e que como experiência, apenas os sete meses em que atuou como coadjutor da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Acaraú, junto ao saudoso Mons. Sabino de Lima.

As dificuldades eram grandes, como Pe. Edson, Pe. Valdery se viu diante dos mesmos problemas: cidade pequena, paróquia paupérrima, apesar de algumas coisas terem sido iniciadas no paroquiato anterior, mas muito, muito ainda tinha que ser feito…

Vendo a deficiência primeira da comunidade, através de sua sensibilidade de educador, fundou – realizando um almejado e antigo sonho do povo cruzense – a Escola Fundamental São Francisco em 1972, que hoje, juntamente com o CEPAC – Centro Pastoral de Cruz e o convento das Irmãs Missionárias Reparadoras do Coração de Jesus, se constitui em um dos maiores complexos educacionais e de treinamento do Vale do Acaraú, com modernas e confortáveis instalações que, além da demanda do ensino fundamental, oferta ainda curso de Pedagogia em Regime Especial em convenio com a Universidade Vale do Acaraú – UVA.

Padre Valdery, é o que se pode afirmar categoricamente um incansável, um construtor, seu paroquiato até aqui de 44 anos, é pontuado por várias realizações que conferem à Paróquia de São Francisco da Cruz, um status de destaque ante a paróquias mais antigas e estruturadas da Diocese de Sobral. A antes acanhada Capela de São Francisco, do não tão distante ano de 1958, que era elevada a categoria de paróquia naquele mesmo ano, hoje, por obra e graça da tenacidade incansável de Pe. Valdery – O Realizador, desponta com referencial no Vale do Acaraú.

Dentre as tantas de suas realizações, cite-se somente algumas de maior envergadura, a saber:
- 03 grandes reformas na Igreja Matriz – 1970, 1992 com a construção da torre, 2001 – a mais completa e estrutura, que mudou por completo as suas feições tanto externa como interna;
- Construção e/ou reforma das Casas Paróquias de Cruz, Cajueirinho, Caiçara, Aranaú e Prata;
- Construção de centros comunitários em Lagoa da Volta, Medeiros, Cedro, Barrinha II, Jenipapeiro, Paraguai, Cavalo Bravo, Aroeira, Córrego do Urubu, Córrego da Forquilha, Baixio e Borges;
- Construção de Monteiros, Castelhano, Carrapateiras, Imbé, Belém, Cajueirinho I, Cajueirinho II, Morgado, Lagoa de Baixo, Barrinha, Poço Doce, Lagoa Salgada, Cedro, Aroeira, Guarda, Porteiras, Tucuns, Lagoa Velha, sendo algumas destas em andamento e, com total apoio da comunidade local;
- Construção na sede da Paróquia da Capela São João, no bairro de mesmo nome e, a Capela Velório no Cemitério São Vicente de Paulo;
- Reformas estruturantes nas Capelas de Prata, Imbé, Aranaú e primeira reforma da atual Igreja de Jijoca;
- Reformas nos cemitério paróquias de Cruz, Cajueirinho, Caiçara, Aranaú, Castelhano, Carrapateiras, Prata, Monteiros e Baixio;
- Construção do Centro Pastoral Pastoral de Aranaú e instalação da Área Pastoral, sob a coordenação das Irmãs Missionárias;
- Creche Criança Feliz;
- Rádio 06 de Abril;
- Escola Fundamental São Francisco;
- CEPAC – Centro Pastoral de Cruz;
- Casa das Irmãs Missionárias em Cruz;
- Criação e instalação da Paróquia de Santa Luzia em Jijoca;

As ações do Realizador, não se restringiram somente ao apostolado, diga-se de passagem, bastante fecundo, como também na campanha plebiscitária pela luta da emancipação política do então Distrito de Cruz, que funcionou sob sua coordenação, culminando no ano de 1985 na elevação de Cruz a categoria de município.

Conclusão
Afirmo, sem medo de erro, que sem a influência direta destas duas grandes figuras que tivemos a grata sorte de tê-los conosco, mesmo não sendo filhos legítimos desta nossa terra, entretanto, por suas ações, foram bem mais cruzenses de que muitos patrícios nossos, devotando além do zelo de seus ministérios sacerdotais a frente de nossa Paróquia, expressaram um amor desmedido que se refletiu e ainda reflete em ações que nos impulsionaram com rumo certo ao crescimento e ao estágio de desenvolvimento onde eles, em suas visões a frente de um tempo, que as condições da época conspiravam para que se tornasse esta nossa cidade, sem suas providenciais ações, igual a tantos outros vilarejos deste nosso pobre nordeste – desassistidos e abandonados à própria sorte dos meandros clientelista da forma de se fazer política nestas paragens.

Obrigado é pouco ante o grande sentimento de gratidão que devotamos às pessoas dos Monsenhores José Edson Magalhães (em memória)  e Manoel Valdery da Rocha.

Fonte: Paulo Roberlando da Silva Ribeiro