quarta-feira, julho 30, 2014

OS DE ONTEM

Homenagem ao município do Acaraú, nos seus 165 anos de emancipação política


Homenagem ao Município do Acaraú, minha terra natal (e minha também, Dimas Carvalho).

 Dimas Carvalho

Acaraú, nas tuas largas ruas,
A poeira dos séculos repousa:
Petrificada luz que no chão pousa,
Antiga Luz de tantos sóis e luas...
O silêncio é o presente que não ousa
Transpor o Rio, onde o passado estua...
Mas quando, à noite, o vento do Mistério,
Por entre as ruas e avenidas sopra,
Vejo surdir a inumerável tropa,
Vinda do Abismo do esplendor funéreo...
São os ginetes do passado. São
Os teus fantasmas, cada qual ao turno,
Que lhe compete, de gibão, coturno,
Deslizando em suave procissão...
Acaraú, ó girassol noturno,
Do Ceará emblema e coração.


Dimas Carvalho

sexta-feira, julho 25, 2014

Barro, barroco



Sem você, sou a parte, não o todo.
Mas quando, sendo partes, nos amamos,
Então somos, o todo, desse instante... 
E sentimos ser o todo até o fim.

Vicente Freitas

quinta-feira, julho 24, 2014

Indagação

Como é o corpo?
Como é o corpo da mulher? 
Onde começa: aqui no chão
Ou na cabeleira, e vem descendo?
Como é a perna subindo e vai subindo
Até onde?
Vê-la num corisco é uma dor 
No peito, a terra treme.
Diz-que na mulher tem partes lindas
E nunca se revelam.
Maciezas Redondas.
Como fazem
Nuas, na bacia, se lavando,
Para não se verem nuas nuas nuas?
Por que dentro do vestido muitos outros vestidos e brancuras e engomados,
Até onde?
Quando é que já sem roupa
É ela mesma, só mulher?
E como que faz
Quando que faz
Se é que faz
O que fazemos todos porcamente?


Carlos Drummond de Andrade