A Memória e a Viagem
No
seu livro monumental “Paris e Seus Poetas Visionários”, Márcio Catunda nos
transporta para suas vivências na capital francesa, resultantes de quatro
viagens realizadas entre 2012 e 2019. Em uma narrativa que flerta com o lirismo
e a introspecção, Catunda nos oferece uma colcha de retalhos de memórias, onde
cada lembrança é apresentada como uma cena de um filme atonal, impregnada de significados
profundos e emoções.
O
Sena, com suas águas que refletem a história e o cotidiano de Paris, torna-se
um personagem onipresente nessas memórias. Para Catunda, contemplar o rio é
mais do que um ato de observação; é uma experiência quase mística, onde cada
ondulação e cada reflexo parecem conter segredos antigos e promessas de
descobertas futuras. A fluidez do Sena espelha o fluxo das lembranças do autor,
que navega por suas experiências com a mesma naturalidade com que o rio
percorre a cidade.
Essas
viagens não são meras escapadas turísticas, mas jornadas espirituais e
introspectivas, onde cada passo dado nas ruas parisienses é um movimento em
direção à compreensão de si mesmo e do mundo ao seu redor. Catunda nos convida
a percorrer Paris com ele, não como espectadores passivos, mas como
companheiros de viagem que compartilham de sua busca por significado e beleza.
As
caminhadas pela Île Saint-Louis surgem como momentos de meditação e autodescoberta,
onde o autor, em meio à arquitetura secular e ao murmúrio constante do Sena, se
vê envolto em rêveries inspiradas por Baudelaire. Essas divagações não são
apenas homenagens ao poeta, mas também diálogos silenciosos entre o passado
literário e o presente vivido, onde as palavras de Baudelaire ganham novos
contornos à medida que Márcio Catunda contempla os recantos da ilha.
Dessas viagens, nasceu o livro “Paris e Seus Poetas Visionários”, uma obra que é ao mesmo tempo um tributo à cidade e aos poetas que a eternizaram em palavras, e uma reflexão profunda sobre a memória e a viagem. Para Márcio Catunda, a memória é uma forma de viagem que transcende o espaço e o tempo, onde cada lembrança é uma porta de entrada para um universo repleto de emoções, sonhos e significados.
Catunda segue os passos de Villon
Márcio Catunda, inicia sua obra “Paris e Seus Poetas Visionários”, numa jornada pelas ruas de Paris, guiando o leitor através dos vestígios da vida de François Villon, o poeta rebelde do século XV. Com um olhar atento e uma sensibilidade aguçada, Catunda explora os meandros do Quartier Latin, onde Villon, estudante e boêmio, perambulava pelas ruas estreitas, vivenciando as aventuras e desventuras que moldariam sua obra.
O autor evoca a atmosfera gótica de uma Paris medieval, onde igrejas como a Saint-Jacques de la Boucherie e a Sainte-Chapelle emergem como testemunhas silenciosas de uma época de fervor religioso e intriga política. Villon, criado na pobreza pelo tio Guillaume de Villon, absorveu o ambiente de sua juventude no Quartier Latin, um território que Catunda descreve como um “território encantado” onde o jovem poeta vivia suas travessuras e primeiras experiências literárias.
Catunda
segue os passos de Villon, reconstruindo a trajetória do poeta desde suas
primeiras baladas até sua adesão à gangue dos “Coquillards”, uma quadrilha de
malfeitores com quem ele se envolveu após uma série de desventuras e crimes. O
relato do autor é vívido e detalhado, levando o leitor a percorrer as ruas por
onde Villon transitava, como a rue de la Harpe, rue de la Huchètte, e rue
Saint-Séverin, todas impregnadas do espírito boêmio e aventureiro da Paris
medieval.
A
narrativa de Catunda revela o destino trágico de Villon, desde seu envolvimento
em brigas e crimes, até sua prisão e subsequente desaparecimento dos registros
históricos. A figura de Villon é retratada com uma mistura de reverência e
crítica, destacando seu gênio poético e sua rebeldia, que o levaram a um
caminho de marginalidade.
Ao
explorar os locais históricos que Villon frequentava, como o albergue La Mule,
hoje transformado no restaurante “Au Port Salut”, Catunda conecta o passado com
o presente, oferecendo ao leitor uma experiência de imersão na história de
Paris e na vida do poeta. Ele explora a transformação desses espaços ao longo
dos séculos, refletindo sobre como a cidade mudou e, ao mesmo tempo, preserva a
memória de figuras como Villon.
A
praça do Châtelet e a torre Saint-Jacques são locais que, embora profundamente
modificados, ainda ressoam com as histórias de um passado distante, onde
poetas, reis e plebeus viviam, amavam e lutavam. A obra de Catunda é, assim,
uma homenagem à Paris dos poetas e uma meditação sobre a temporalidade e a
permanência na vida urbana.
O Fascínio de Nerval
Através
das ruas de Paris, onde o passado e o presente se entrelaçam em uma dança
atemporal, Márcio Catunda se vê atraído por uma figura singular, um poeta cuja
vida e obra ecoam em sua própria alma: Gérard de Nerval. É uma fascinação que
transcende o simples interesse literário; é uma conexão visceral, quase mística,
que o leva a explorar os caminhos por onde Nerval andou, a respirar o mesmo ar
e a contemplar os mesmos cenários que inspiraram o poeta visionário.
Ao
caminhar pelas ruas do Quartier Latin, Catunda se depara com o Théâtre de la
Ville, um lugar carregado de história, mas que carrega um peso particular para
ele. É ali que Nerval, num ato de desespero que marcou o fim de sua vida
tumultuada, escolheu encerrar sua existência. O teatro, com suas paredes
silenciosas e a aura de tragédia, se torna um lugar de peregrinação para
Catunda, que busca entender não apenas o que levou Nerval a tal extremo, mas
também o que sua vida e morte podem ensinar aos que vieram depois.
O
rosto de Nerval, eternizado na fotografia de Félix Nadar, é uma imagem que
permanece gravada na mente de Catunda. Há algo na expressão de Nerval que vai
além da superfície — uma mistura de simplicidade e sofrimento que parece capsular
toda a essência de sua vida poética. Catunda, ao olhar para essa imagem, sente
que está diante de uma alma, alguém que conheceu os abismos da mente e do
espírito, e que tentou, através da arte, encontrar algum tipo de redenção ou
alívio.
Essa
conexão com Nerval não é apenas uma fascinação pessoal; é um elemento central
em seu livro “Paris e seus Poetas Visionários”. Neste trabalho, Catunda não
apenas explora a obra dos grandes poetas parisienses, mas também mergulha nas
vidas daqueles que, como Nerval, viveram na fronteira entre a genialidade e a
loucura. Nerval, com seu romantismo sombrio e sua busca incansável por um
sentido no caos da existência, emerge como uma figura central, uma espécie de
guia espiritual que conduz Catunda pelas sombras de Paris.
À
medida que Catunda explora esses lugares carregados de memória, ele se dá conta
de que o fascínio por Nerval é uma busca por entender a si mesmo. As caminhadas
solitárias pelas ruas de Paris, as visitas aos locais marcados pela presença de
Nerval, tornam-se, para ele, uma forma de diálogo com o poeta — um diálogo que
atravessa o tempo e o espaço, unindo duas almas separadas por séculos, mas
ligadas por um fio invisível de admiração e compreensão.
A
figura de Gérard de Nerval, com sua vida marcada por tragédias e sua obra
impregnada de beleza e melancolia, continua a ser uma presença viva na
imaginação de Márcio Catunda. Ao escrever sobre Nerval, Catunda não está apenas
celebrando a memória de um grande poeta; está, de certa forma, buscando sua
própria redenção através da arte, assim como Nerval fez em sua vida curta, mas
intensa. Em “Paris e Seus Poetas Visionários”, o fascínio de Catunda por Nerval
se torna uma meditação profunda sobre a vida, a arte e a inevitável sombra da
mortalidade.
Victor Hugo e a Île de la Cité
Márcio
Catunda, um viajante devotado à essência poética de Paris, revive o espírito de
Victor Hugo enquanto percorre a Île de la Cité. Ele se transporta para os dias
em que o autor de Notre-Dame de Paris subia as torres da catedral gótica,
envolto na atmosfera mágica e quase mística que a ilha oferece. O que Hugo via,
Catunda agora contempla, sentindo o mesmo deslumbramento diante das cúpulas que
se erguem majestosamente contra o céu parisiense.
Ao
pôr do sol, a cidade parece respirar através dos reflexos dourados que dançam
sobre as águas do Sena. É um momento de quietude e reverência, onde o passado e
o presente se fundem em um único instante. Catunda, em seus passeios pelo
Quartier Latin, sente a presença quase palpável de Hugo, como se o escritor
ainda estivesse por ali, caminhando lentamente pelas ruas de paralelepípedos,
inspirando-se nos detalhes de cada fachada, cada esquina, cada sombra projetada
pela luz que se esvai.
Os
monumentos que o cercam parecem contar histórias ao ouvido atento de Catunda,
histórias que Hugo imortalizou em suas páginas. A Notre-Dame, com suas gárgulas
vigilantes, revela-se não apenas como uma construção física, mas como um
símbolo da resistência e do tempo, testemunha silenciosa dos dramas humanos que
ali se desenrolaram. Catunda se encanta com essa grandiosidade, com a
habilidade de Hugo em captar a alma dos lugares e dos seres que os habitam.
Em
seu livro “Paris e Seus Poetas Visionários”, Catunda expressa essa profunda
conexão com Hugo, reconhecendo o impacto duradouro que o autor teve sobre ele.
Cada visita à Île de la Cité é um mergulho nas camadas da história, um convite
para ver o mundo através dos olhos de um dos maiores escritores da literatura
francesa. A cidade, sob a influência de Hugo, torna-se um vasto palco onde os
monumentos são personagens e, as ruas, os cenários de um drama eterno.
Para
Catunda, a Île de la Cité não é apenas o coração geográfico de Paris, mas
também o coração poético de sua própria jornada literária. Aqui, ele encontra o
eco das palavras de Hugo, ressoando através dos séculos, lembrando-o de que a
verdadeira grandeza de um lugar reside na capacidade de inspirar aqueles que o
amam e o compreendem.
Os Cinemas e o Boulevard Saint-Germain
Atravessar
o Boulevard Saint-Germain, é se envolver na história, cultura e arte de Paris. Cada
esquina revela um fragmento da alma parisiense, uma cidade que é ao mesmo tempo
um museu ao ar livre e um cenário de cinema. Para Márcio Catunda, a paixão pelo
cinema se materializa em seus frequentes passeios ao Espace Saint-Michel, um
dos recantos mais charmosos da Sétima Arte. Localizado próximo ao Sena, esse
cinema de arte é um santuário, onde diretores visionários como Luis Buñuel,
François Truffaut e Jean-Luc Godard são venerados.
Ao
assistir a filmes de Buñuel, Catunda mergulha nas camadas de surrealismo que
tanto definem a obra do cineasta espanhol. Cada sessão é uma porta aberta para
o absurdo, o poético e o revolucionário. Buñuel, com sua habilidade em
desconstruir a realidade, encontra eco na percepção de Catunda sobre a vida
urbana. O Espace Saint-Michel, com suas pequenas salas aconchegantes e a
programação cuidadosa, oferece o ambiente ideal para essa experiência cinematográfica,
quase íntima. As paredes do cinema parecem sussurrar segredos de cenas
passadas, enquanto Catunda, com olhar atento, absorve cada frame, cada nuance
de narrativa.
Depois
de uma sessão envolvente, Catunda se vê de volta ao Boulevard Saint-Germain.
Suas caminhadas ao longo dessa via histórica são carregadas de contemplação.
Passando pelo Panthéon, onde repousam os grandes nomes da França, ele sente o
peso da história em cada passo. O mosteiro de Cluny, com sua arquitetura gótica
imponente, o transporta a um tempo em que Paris era o coração pulsante da Idade
Média. Porém, é no presente, entre o burburinho dos cafés e o vai e vem dos
turistas, que Catunda encontra a verdadeira vibração da vida.
Essas
caminhadas são descritas por ele com uma riqueza de detalhes que revela não
apenas a topografia, mas a alma de Paris. Cada fachada de prédio, cada praça,
cada estátua, são capturados por sua escrita como se fossem personagens de um
filme em contínua produção. O Boulevard Saint-Germain, com seus cafés icônicos
como Les Deux Magots e Café de Flore, onde outrora Sartre e Simone de Beauvoir
discutiam existencialismo, torna-se um cenário perfeito para reflexões sobre a
vida, a arte e o próprio cinema.
“Paris
e Seus Poetas Visionários” não é apenas um passeio geográfico, mas uma viagem
interior. É um diálogo entre as obras que ele tanto aprecia e as ruas que
percorre. A Paris que Catunda descreve é uma cidade onde o passado e o presente
se encontram, onde o real e o imaginário coexistem harmoniosamente. Ali, cada
visita ao cinema, cada caminhada pelo boulevard, é uma experiência
cinematográfica em si mesma, um fragmento de um filme maior que é a própria
vida.
Com
essa perspectiva, Márcio Catunda transforma o ato simples de caminhar pelas
ruas de Paris em um evento poético, onde cada esquina oferece uma nova cena, um
novo insight. E assim, o Boulevard Saint-Germain, com seus cinemas e cafés,
torna-se não apenas um lugar físico, mas um símbolo da interseção entre arte e
vida, onde o cinema e a poesia se encontram nas “notas de viagem” de Márcio
Catunda.
Antonin Artaud e a Vertigem de Desnos
Ivry-sur-Seine,
uma pequena comuna nos arredores de Paris, guarda em seus recantos o silêncio
pesado de memórias que nunca se dissipam. Em uma manhã de céu pálido e ruas
tranquilas, Márcio Catunda caminhava pelo parque onde Antonin Artaud passou
seus últimos dias, buscando captar a essência daquilo que ainda vibrava no ar,
impregnado das angústias e das criações intensas que marcaram a vida do
dramaturgo e poeta.
Artaud,
sempre à beira do abismo da loucura, viveu uma existência que se confundia com
suas obras: fragmentada, intensa, dolorosa. A loucura para ele não era uma
fuga, mas uma confrontação crua com as realidades que a mente comum não podia
suportar. Caminhar pelo parque de Ivry, onde Artaud encontrou seus momentos
finais, foi, para Catunda, um mergulho em um mar de vertigens. As árvores, os
bancos, a terra sob seus pés, tudo parecia pulsar com a energia residual das
crises criativas e existenciais de Artaud.
Enquanto
percorria essas alamedas sombrias, Catunda não podia deixar de pensar em Robert
Desnos, outro poeta que encontrou em Paris o palco para sua trágica trajetória.
Desnos, cuja vida foi brutalmente interrompida pelo horror nazista,
transporta-se em memória da rue Mazarine, onde seu espírito livre e visionário
foi capturado. Da boemia parisiense à resistência, Desnos viveu com uma
intensidade que ressoava com a de Artaud, mas que, ao contrário deste,
encontrou seu fim em um campo de concentração, uma das faces mais cruéis da
história.
Essas
figuras, tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes em sua busca
desesperada pela transcendência através da arte, encontravam-se agora reunidas
nas reflexões de Catunda, enquanto ele escrevia seu livro “Paris e seus Poetas
Visionários”. Artaud e Desnos, cada um à sua maneira, vivenciaram o ápice da
criação e a vertigem da destruição, duas forças que, para eles, eram
inseparáveis.
A
cidade de Paris, com seus bairros históricos e suas sombras literárias,
tornou-se o pano de fundo para essas reflexões. Catunda via nas ruas, nos
cafés, nas pontes que cruzavam o Sena, o cenário onde a arte e a vida se
misturavam de maneira visceral. Paris era a cidade onde sonhos eram tecidos e
despedaçados com a mesma intensidade, onde a realidade e a imaginação dançavam
em um balé de sombras e luzes.
Ao
retornar de Ivry, as imagens de Artaud e Desnos ainda vibravam na mente de
Catunda. Eles não eram apenas poetas e artistas; eram mártires de uma busca
insaciável por significado, por uma verdade que transcende as convenções da
sociedade. Em “Paris e Seus Poetas Visionários”, Catunda captura essa essência,
a chama que os impulsionou até seus limites, a vertigem que os consumiu.
O
parque de Ivry, com sua serenidade enganosa, e a rue Mazarine, com sua história
de resistência e perda, tornaram-se, então, não apenas cenários de lembranças,
mas símbolos de uma Paris onde a poesia e o sofrimento caminham de mãos dadas,
onde a vida e a morte se encontram numa vertigem sem fim.
Montmartre e a Basílica do Sacré-Coeur
Montmartre,
com suas ruas íngremes e atmosfera boêmia, é mais do que um simples bairro de
Paris; é um santuário de inspiração para artistas, poetas e sonhadores. Para
Márcio Catunda, Montmartre se torna um ponto de peregrinação espiritual e
literária, uma jornada em busca das sombras e ecos dos grandes nomes que por lá
passaram. Entre eles, Max Jacob, cujas pegadas invisíveis Catunda tenta seguir
em suas próprias caminhadas reflexivas.
Ao
subir a colina que leva à Basílica do Sacré-Coeur, Catunda sente a presença
quase palpável da história, não apenas de Paris, mas de uma tradição poética
que encontrou em Montmartre um de seus refúgios mais queridos. A basílica,
imponente em seu estilo romano-bizantino, ergue-se como um farol de fé e contemplação,
oferecendo uma vista panorâmica que abrange toda a cidade. É uma vista que, ao
mesmo tempo, enche os olhos e a alma, convidando o observador a refletir sobre
a grandiosidade e a complexidade da vida parisiense.
Em
seu livro “Paris e Seus Poetas Visionários”, Catunda descreve essa experiência.
Inspirado por figuras como Philippe Delaveau, Catunda se torna ele próprio um
flâneur, um explorador das ruas e vielas de Montmartre, onde cada esquina
parece sussurrar versos antigos e novas ideias. A Basílica do Sacré-Coeur, com
sua atmosfera de paz e espiritualidade, não é apenas um destino turístico; para
Catunda, é um símbolo vivo de beleza, capaz de evocar tanto a quietude do
espírito quanto a agitação criativa que caracteriza a experiência artística.
A
caminhada pela colina de Montmartre e a contemplação da basílica tornam-se para
Catunda um ritual, uma forma de conexão com a longa linhagem de poetas e
artistas que encontraram em Paris o cenário ideal para suas criações.
Montmartre, com suas ruas pavimentadas de história e sua arquitetura carregada
de simbolismo, serve como pano de fundo para as reflexões de Catunda sobre a
arte, a vida e o poder transformador da poesia.
Assim,
ao percorrer as ruas de Montmartre e ao subir os degraus do Sacré-Coeur, Márcio
Catunda não apenas explora a cidade, mas também se reencontra com sua própria
essência criativa, inspirado por aqueles que vieram antes dele e pelos versos
que, silenciosamente, continuam a ecoar pelas ruas e becos da Cidade Luz.
A Paris dos Poetas e dos Surrealistas
Márcio
Catunda, em seu livro “Paris e Seus Poetas Visionários”, nos conduz por uma
jornada que transcende a mera geografia, evocando as memórias e o legado dos
gigantes da literatura que moldaram o imaginário da Cidade Luz. Em cada
esquina, cada pedra, ele encontra vestígios dos poetas e surrealistas que ali
viveram, criaram e deixaram marcas indeléveis na cultura mundial.
Visita
à casa de Paul Verlaine, um dos mestres da poesia francesa. Ao adentrar este
espaço, Catunda não apenas observa o lugar físico, mas sente a presença quase
tangível de Verlaine. As paredes parecem sussurrar versos, ecoando o tumulto
interior e a paixão que marcaram a vida do poeta. A casa, modesta e
melancólica, reflete a complexidade da alma de Verlaine, e Catunda, em sua
prosa poética, captura essa essência com uma sensibilidade rara.
A
Paris dos surrealistas é outra dimensão que Catunda explora com fascínio. Ele
nos leva aos cafés e recantos onde André Breton e seus seguidores se
encontravam para desafiar as convenções da realidade e da arte. O Café de la
Place Blanche, o Brasserie Cyrano e outros lugares emblemáticos tornam-se, nas
mãos de Catunda, portais para um mundo onde a imaginação não tem limites.
Breton, com seu magnetismo e visão, emerge das páginas como uma figura central,
um farol que guiou uma geração de artistas em busca do novo, do desconhecido.
Catunda
eleva o olhar para as imponentes torres de Saint-Sulpice, uma igreja que guarda
memórias preciosas de dois gigantes da literatura francesa: Charles Baudelaire
e Victor Hugo. Ali, Baudelaire foi batizado, um rito que parece prefigurar sua
jornada poética em direção às profundezas do humano e do sublime. Catunda, ao contemplar
a igreja, sente a presença de Baudelaire, como se o poeta ainda caminhasse
pelas ruas próximas.
Na
mesma igreja, Catunda evoca o casamento de Victor Hugo, uma figura monumental
na história literária da França. A união de Hugo com Adèle Foucher é mais do
que um evento pessoal; é um símbolo da conexão entre a vida e a obra de um dos
maiores escritores de todos os tempos. Catunda, ao refletir sobre este momento,
parece entrelaçar o amor e a literatura, como se a própria Paris tivesse sido
testemunha silenciosa da grandeza de Hugo.
O
fio condutor desta jornada é a profunda conexão de Márcio Catunda com esses
gigantes da literatura. Em cada passo, ele busca não apenas compreender, mas
vivenciar o que eles sentiram, pensaram e criaram. Sua escrita, impregnada de
reverência e admiração, nos transporta para uma Paris atemporal, onde o espírito
dos poetas ainda vive e inspira.
Em
“Paris e Seus Poetas Visionários”, Catunda não é apenas um viajante, mas um
mediador entre o passado e o presente, entre os mundos visíveis e invisíveis da
Cidade Luz. Através de suas “notas de viagem”, ele nos convida a revisitar
Paris com novos olhos, a redescobrir a cidade através das lentes daqueles que a
transformaram. “Paris e Seus Poetas Visionários” é uma obra que celebra a
continuidade da inspiração, onde cada rua, cada monumento, cada café, continua
a ser um palco para a poesia e a imaginação.
O Impacto das Artes e das Revoluções
O
caminhar lento de Márcio Catunda pelas ruas parisienses, onde cada esquina
parece resguardar um segredo histórico, o conduziu à majestosa Place des
Vosges. Ali, num prédio de fachada discreta, encontra-se o museu dedicado a
Victor Hugo. Ao cruzar o limiar daquele espaço, Catunda foi transportado não
apenas para a intimidade do escritor, mas também para o âmago do século XIX, um
período marcado por revoluções, tanto nas letras quanto nos ideais. A aura de
Hugo, um homem cuja pena combateu a tirania e defendeu os oprimidos, pairava
sobre cada cômodo. Observando os manuscritos, as mobílias carregadas de
histórias e as obras de arte que Hugo colecionou ao longo da vida, Catunda foi
invadido por uma profunda reverência ao poder transformador da arte. Aquelas
paredes, testemunhas de uma mente brilhante e inquieta, revelavam como as
palavras podem se tornar armas poderosas contra a opressão, e como a arte pode
ser um refúgio e um grito de liberdade.
Deixando
a Place des Vosges, seus passos o levaram à Madeleine, onde a vida de Jean
Cocteau, com sua multiplicidade de talentos, inspirou novas reflexões. Cocteau,
o artista que transitou com maestria entre a literatura, o teatro, o cinema e
as artes visuais, é um exemplo vivo de como as fronteiras entre as disciplinas
artísticas podem ser fluidas e mutuamente enriquecedoras. Sua presença é quase
palpável em cada canto de Paris, cidade que ele tanto amou e onde se tornou um
símbolo de modernidade e vanguarda. Refletindo sobre a vida de Cocteau, Catunda
percebeu como a arte é uma força motriz que, nas mãos certas, pode moldar não
apenas um indivíduo, mas uma cultura inteira.
Essas
reflexões se intensificaram durante uma sessão de cinema, quando Catunda
assistiu ao filme J’accuse, que traz à tona a injustiça sofrida por Alfred
Dreyfus e a coragem inabalável de Émile Zola. O filme, com sua narrativa
potente, não apenas reconta um dos episódios mais sombrios da história
francesa, mas também nos lembra do papel crucial que os intelectuais e artistas
desempenham na luta pela justiça e pela verdade. Zola, com sua carta aberta que
desafiou o poder estabelecido, não apenas defendeu Dreyfus, mas também expôs as
entranhas de um sistema corrompido. Foi um lembrete poderoso de como as artes,
seja através da escrita, do cinema ou de qualquer outra forma de expressão, têm
a capacidade de questionar, desafiar e, eventualmente, mudar o curso da
história.
Estas
experiências, somadas ao impacto das artes e das revoluções, encontram eco nas
páginas do livro “Paris e Seus Poetas Visionários”, de Márcio Catunda. Nele, o
autor explora as contribuições de grandes figuras que, através de sua arte,
desafiaram o status quo e abriram novos horizontes para a humanidade. É uma
obra que celebra Paris não apenas como um cenário de inspiração, mas como um
verdadeiro campo de batalha onde ideias, sonhos e revoluções nasceram e
floresceram.
Ao
final de cada dia, enquanto a luz dourada do entardecer se espalha pelas ruas
de Paris, Catunda sente que a cidade lhe sussurra seus segredos, mostrando-lhe
como as artes e as revoluções continuam a moldar nosso mundo. A visita ao museu
de Victor Hugo, as reflexões sobre Jean Cocteau e a injustiça de Dreyfus são
lembretes de que a arte não é apenas um espelho da realidade, mas também uma
força capaz de transformá-la.
Concertos e Silêncios em Paris
Márcio
Catunda, em sua jornada pelas ruas e sons de Paris, encontrou na cidade uma
harmonia entre a música e o silêncio. Paris, com sua história rica e aura
mística, sempre foi mais do que apenas um destino; um refúgio espiritual e um
palco para as mais profundas experiências artísticas. Os concertos que assistiu
e os momentos de introspecção que viveu durante sua estadia revelam uma Paris
que vai além dos clichês turísticos, entrando no domínio do sagrado e do
sublime.
Um
dos momentos mais marcantes dessa viagem foi o concerto de música sacra na
majestosa Catedral de Notre-Dame. Ali, sentado sob os arcos góticos, envolto
pela grandiosidade do espaço e pela pureza do som, Catunda sentiu-se
transportado a uma dimensão atemporal. As notas do órgão ecoavam pelos
corredores, cada acorde ressoando como um eco do passado, uma ligação viva com
a história da cidade. A espiritualidade do momento foi intensificada pela
atmosfera solene da catedral, onde a luz suave filtrada pelos vitrais criava um
ambiente quase etéreo.
Outro
evento significativo foi a performance de piano na igreja de
Saint-Julien-le-Pauvre, uma das mais antigas de Paris. Nesse espaço intimista,
próximo ao rio Sena, Catunda experimentou uma conexão profunda com a música. As
melodias que preenchiam o ar não eram apenas sons, mas expressões de uma
verdade universal, uma ponte entre o artista e o ouvinte. O piano, com sua
capacidade de evocar emoções complexas, serviu como veículo para uma reflexão
silenciosa sobre a vida, a arte e o próprio significado de estar em Paris.
Esses
concertos, imersos em beleza e espiritualidade, fortaleceram a relação de
Catunda com a cidade. Não eram apenas eventos culturais, mas rituais pessoais,
momentos em que o tempo parecia suspenso e a essência de Paris se revelava em
toda sua profundidade. O silêncio que seguia cada performance era tão poderoso
quanto a música em si, oferecendo a Catunda a oportunidade de absorver e
internalizar o que havia experienciado.
Em
seu livro “Paris e Seus Poetas Visionários”, Márcio Catunda reflete sobre esses
momentos com uma sensibilidade aguçada. Ele escreve não apenas sobre a música
que ouviu, mas sobre o silêncio que a seguiu, um silêncio que reverberava com
significados ocultos e lembranças veladas. Para Catunda, Paris é uma cidade de
sons e de silêncios, onde cada nota, cada pausa, contribui para a sinfonia de
sua alma. E é através dessas experiências que ele se reconecta com a essência da
poesia, com a cultura, e, sobretudo, com a cidade que sempre foi uma fonte
inesgotável de inspiração.
Algumas maravilhas do Louvre
Márcio
Catunda, em sua obra, revela a alma de um visitante que encontra no Louvre não
apenas um museu, mas um vasto território de esplendor e história. Com um olhar atento
e poético, ele explora os corredores e galerias, testemunhando a majestade das
obras que compõem este grandioso espaço. Desde os primeiros momentos, Catunda
destaca o papel histórico do Louvre, remontando à influência do cardeal Mazarin
e ao reinado de Louis XIV, que, com seus esforços de mecenato, encheram o museu
com os maiores tesouros da arte clássica.
Catunda
destaca a importância histórica do Louvre, remontando à sua origem como palácio
real e à transformação que o tornou um dos maiores museus do mundo. Ele rememora
a influência do cardeal Mazarin e o papel crucial do reinado de Louis XIV, cujo
apoio ao mecenato artístico foi essencial para encher o Louvre com os maiores
tesouros da arte clássica. Essa narrativa não é apenas um relato histórico; é
uma homenagem àqueles que, ao longo dos séculos, reconheceram o valor
imensurável da arte e se esforçaram para preservá-la.
Ao
caminhar pelas galerias, Catunda observa com fascínio as obras-primas que
adornam as paredes do Louvre. Sua prosa evoca a presença imponente da “Mona Lisa”,
cujo sorriso enigmático tem cativado gerações de espectadores. Ele reflete
sobre a delicadeza do “Amor e Psique”, de Canova, que, em sua opinião, captura
a essência do amor eterno. Para Catunda, cada obra no Louvre tem uma história
própria, uma alma que dialoga com o observador, evocando sentimentos e
pensamentos que vão além da mera contemplação visual.
Além
das grandes obras, Catunda se detém nas sutilezas que muitas vezes passam
despercebidas pelos visitantes apressados. Ele destaca a importância dos
detalhes arquitetônicos, como as abóbadas e os arcos, que, para ele, são
testemunhos silenciosos da grandiosidade do Louvre. O autor também se interessa
pelas coleções menos conhecidas, como as antiguidades egípcias, que, segundo
ele, revelam a conexão profunda entre a arte e a eternidade.
Em
sua obra, Catunda não apenas descreve o Louvre como um espaço físico, mas como
um lugar de encontro entre o passado e o presente, onde as vozes dos antigos
mestres ainda ecoam nas paredes. Ele enxerga o museu como um símbolo da
continuidade da civilização, onde a história da arte se desdobra diante dos
olhos do observador, permitindo-lhe conectar-se com os grandes gênios do
passado.
A
narrativa de Catunda conduz o leitor através das diferentes épocas e estilos,
começando com a coleção de obras que inclui mestres como Poussin, Da Vinci e
Raphael, até os saques napoleônicos que enriqueceram ainda mais o acervo do
museu. Ao revisitar o Louvre diversas vezes, Catunda mostra um fascínio
constante, quase hipnótico, pelas obras ali contidas, especialmente as que
narram episódios da história francesa.
Márcio
Catunda, em sua jornada pelas maravilhas do Louvre, nos guia através das
diferentes épocas e estilos artísticos que habitam o museu. Ele demonstra um
profundo respeito e admiração pelos grandes mestres cujas obras enriquecem o
acervo, começando por figuras emblemáticas como Nicolas Poussin, Leonardo da
Vinci e Raphael. Essas referências não são meras menções; são uma celebração da
genialidade e do impacto que esses artistas tiveram na história da arte.
Ao
se debruçar sobre Poussin, Catunda enfatiza a importância do clássico na
formação da arte francesa. As obras de Poussin, com suas composições rigorosas
e temas mitológicos, são vistas por Catunda como um reflexo da ordem e da
harmonia, características que definiram a arte europeia por séculos. O Louvre,
ao abrigar essas peças, torna-se um guardião da herança clássica, um lugar onde
a história é eternamente preservada em pinceladas meticulosas.
Leonardo
da Vinci, por sua vez, é abordado por Catunda com uma aura quase mística. O
autor descreve a “Mona Lisa” como uma entidade viva, cujo sorriso enigmático
transcende o tempo e desafia a compreensão. Catunda parece ser atraído pela
maneira como Da Vinci criou obras que são tão cientificamente precisas quanto
artisticamente revolucionárias. A presença de Da Vinci, no Louvre, não é apenas
uma exibição de arte; é uma janela para o renascimento do pensamento e da
criatividade humana.
Raphael,
o mestre do Renascimento, também recebe uma atenção especial. Catunda se
encanta com a forma como Raphael conseguiu capturar a pureza e a serenidade em
suas Madonas, infundindo nas figuras religiosas uma humanidade tocante. No
Louvre, essas obras não apenas decoram as paredes, mas também servem como
símbolos de um ideal artístico que busca a beleza na simplicidade da forma.
Catunda,
em sua narrativa, não se limita apenas às obras dos grandes mestres. Ele
mergulha nos complexos e, por vezes, controversos episódios da história do
Louvre, como os saques napoleônicos. O autor explora como as campanhas
militares de Napoleão enriqueceram o acervo do museu, trazendo obras de arte de
toda a Europa. Catunda descreve esse período como uma era de expansão cultural,
em que o Louvre se tornou o maior repositório de tesouros artísticos do mundo.
Contudo, ele também reconhece o lado sombrio dessas aquisições, onde a glória
de um império foi construída, em parte, sobre a pilhagem e o deslocamento de obras.
A
cada visita ao Louvre, Catunda revela um fascínio renovado pelas obras que ali
se encontram. Seu olhar é quase hipnótico, especialmente quando se depara com
pinturas que narram episódios cruciais da história francesa. Ele encontra nas
telas uma narrativa visual da nação, onde cada pincelada conta uma parte da
história, desde a grandeza até as tragédias. O Louvre, nesse sentido, é mais do
que um museu; é um reflexo da alma francesa, capturada em cores e formas que
resistem ao passar do tempo.
Márcio
Catunda oferece ao leitor sua experiência ao detalhar suas visitas ao Museu do
Louvre. Suas descrições não se limitam a meras observações estéticas; elas
mergulham nas profundezas das emoções e histórias evocadas pelas obras-primas
ali expostas. Ao percorrer os pavilhões de Richelieu e Denon, Catunda se depara
com a grandiosidade de artistas que moldaram a história da arte, como
Fragonard, Poussin e Ingres, revelando uma sensibilidade apurada para a arte e
um entendimento profundo do contexto histórico e cultural em que essas obras
foram criadas.
Um
dos momentos mais marcantes de sua narrativa ocorre ao descrever “Scène du
massacre de la Saint-Barthélémy”, de Alexandre Évariste Fragonard. Catunda
captura a intensidade da cena retratada, uma representação aterradora de um dos
episódios mais sombrios da história francesa. A violência, o caos e o desespero
impregnados na tela são traduzidos em palavras com uma precisão que faz o
leitor quase sentir a atmosfera de terror e tragédia que Fragonard capturou. O
olhar de Catunda sobre essa obra-prima vai além da superfície, explorando as
camadas emocionais que ela desencadeia e as implicações históricas que
reverberam até os dias atuais.
Da
mesma forma, ao contemplar “Jeanne d’Arc au sacré du roi Charles VII”, de
Ingres, Catunda não se limita a admirar a técnica impecável do artista. Ele se
aprofunda na figura de Jeanne d’Arc, uma personagem histórica que transcende
seu tempo e se torna um símbolo de resistência, fé e patriotismo. A obra de
Ingres, com sua majestade e espiritualidade, ressoa fortemente com Catunda, que
descreve as emoções contraditórias de triunfo e sacrifício que a imagem de
Jeanne d’Arc inspira. A prosa de Catunda não apenas celebra a habilidade
técnica de Ingres, mas também conecta a obra à história francesa e à psicologia
de seus heróis.
O
passeio de Catunda pelos corredores do Louvre se transforma, assim, em uma
verdadeira celebração das maravilhas do museu, onde cada obra é um portal para
diferentes épocas, estilos e histórias. Sua escrita em “Paris e Seus Poetas
Visionários” transcende a simples crítica de arte, oferecendo ao leitor uma
jornada sensorial e intelectual que ecoa muito além das paredes do Louvre. Cada
pintura que ele descreve não é apenas uma obra estática em uma galeria, mas um
universo vivo e pulsante, repleto de significados e emoções que continuam a
reverberar, convidando o leitor a ver além da superfície e a se perder nas
maravilhas que o Louvre tem a oferecer.
O
Louvre, com sua imponente arquitetura e vasto acervo, é um dos maiores e mais
icônicos museus do mundo, abrigando algumas das mais notáveis obras de arte da
história da humanidade. Cada sala, cada corredor, é um testemunho da riqueza
artística e cultural que moldou civilizações ao longo dos séculos. Ao caminhar
por suas galerias, somos transportados por uma narrativa visual que abrange
desde as antigas civilizações do Oriente Médio até as revoluções artísticas da
era moderna. É nesse cenário que o escritor e poeta Márcio Catunda, em sua obra
“Paris e Seus Poetas Visionários”, mergulha nas profundezas da arte exposta no
Louvre, explorando as técnicas, as mensagens e as emoções que cada obra evoca.
Catunda,
em sua jornada pelo Louvre, visita a obra de Jacques-Louis David, um dos
maiores expoentes do neoclassicismo francês. Em “A Coroação de Napoleão”, David
captura com maestria a grandiosidade do imperador, destacando-se pela precisão
dos detalhes e pela glorificação do poder. A pintura, monumental em tamanho e
impacto, serve não apenas como um registro histórico, mas também como uma
afirmação da autoridade de Napoleão, onde cada figura, cada gesto, é
meticulosamente planejado para enfatizar a grandeza do momento. Catunda observa
como David, através de uma paleta restrita e uma composição rigorosa, consegue
transmitir a ideia de glória e legitimidade, transformando o evento em uma
narrativa épica.
Em
contraste com a formalidade neoclássica de David, Catunda nos guia para a
explosão de emoções e cores vibrantes na obra de Eugène Delacroix. “La liberté
guidant le peuple” é, para Catunda, uma das mais poderosas expressões da
revolução e da liberdade. Delacroix não apenas retrata um evento histórico, mas
infunde a tela com uma energia quase palpável, onde a figura alegórica da
Liberdade lidera o povo francês em uma luta fervorosa. Catunda destaca como a
composição diagonal da pintura, combinada com o uso audacioso de cores, cria um
dinamismo que parece transcender os limites do quadro, convidando o espectador
a participar da revolta. A obra é um hino visual à luta por justiça e à força
do espírito.
Mas
Catunda não se restringe apenas às obras grandiosas e aos mestres mais
renomados. Ele também se debruça sobre as sutilezas e a simbologia presentes em
peças que, embora menores em escala, são igualmente impactantes. Entre elas, as
alegorias de Giuseppe Arcimboldo, que encantam e intrigam com sua fusão entre o
natural e o surreal. As representações de rostos humanos compostos por frutas,
flores, animais e objetos inanimados revelam uma genialidade que transcende a
simples técnica pictórica. Catunda observa como Arcimboldo, através dessas
composições inusitadas, explora temas como a transitoriedade da vida e a
interconexão entre o homem e a natureza, oferecendo ao espectador uma visão que
é ao mesmo tempo lúdica e profundamente filosófica.
A
visita de Márcio Catunda é, portanto, uma celebração das maravilhas do Louvre,
onde cada obra é um portal para um universo de significados e emoções. Através
de suas palavras, Catunda convida o leitor a não apenas observar as obras, mas
a imergir nelas, a sentir o peso da história, a vibrar com as revoluções e a
refletir sobre as sutilezas da arte. O Louvre, com sua coleção de tesouros
artísticos, serve como um pano de fundo perfeito para essa exploração poética e
crítica, tornando-se, nas mãos de Catunda, não apenas um museu, mas um espaço
de encontro entre o passado e o presente, entre o artista e o observador, entre
a arte e a vida.
Através
de suas “anotações”, Márcio Catunda não apenas guia o leitor pelas salas do
Louvre, mas o envolve em uma experiência quase espiritual, onde a arte não é
apenas admirada, mas vivida. A vastidão do Louvre, com seus incontáveis
tesouros, é para Catunda uma fonte inesgotável de inspiração, um lugar onde o
tempo parece suspenso e onde cada visita é uma redescoberta, um novo
encantamento. Ao final, ele reconhece a impossibilidade de captar em poucas
palavras toda a grandiosidade do Louvre, mas é justamente essa tentativa que
enriquece sua narrativa, transformando-a em um tributo ao poder duradouro da
arte.
Os esplendores do Museu d’Orsay
Márcio
Catunda, em sua obra, registra com precisão a intensa imersão cultural que
viveu durante suas peregrinações por Paris, especialmente no Museu d’Orsay. Ele
não se limitou a explorar as ruas e os lugares onde poetas famosos viveram, mas
também mergulhou no universo dos teatros, cinemas e museus parisienses. Um
destaque particular é dado ao Museu d’Orsay, onde Catunda revisitou, antes do
término de sua terceira excursão literária, um acervo que o deixou
profundamente impressionado.
Suas
observações começam com a obra de Toulouse-Lautrec, onde ele admira as cores e
o dinamismo das cenas noturnas dos cabarés de Montmartre, especialmente em “La
danse au Moulin-Rouge”. A descrição de Catunda enfatiza o contraste vívido
entre as dançarinas e os diletantes, capturando a energia da vida noturna
parisiense. A obra é uma explosão de cores e movimentos, onde cada pincelada
parece pulsar com a vida efervescente da Paris boêmia. As figuras das
dançarinas, com suas roupas extravagantes e expressões de euforia, dominam a
cena, enquanto os diletantes, meio escondidos nas sombras, observam com
fascinação.
O
contraste entre as dançarinas e os espectadores é um dos aspectos mais notáveis
desta obra. Toulouse-Lautrec utiliza a cor de maneira magistral para destacar
essa dicotomia: os tons vibrantes das roupas e das luzes do salão se chocam com
os tons mais escuros e sutis das figuras masculinas, criando um jogo de luz e
sombra que intensifica a atmosfera da cena. A linha de frente da pintura, onde
as figuras das dançarinas estão em pleno movimento, contrasta com a estática e
a introspecção dos observadores, reforçando a sensação de que estão
presenciando um momento fugaz, capturado no auge de sua vitalidade.
O
dinamismo de “La danse au Moulin-Rouge” é amplificado pela composição da obra,
que parece girar ao redor da figura central da dançarina, criando uma sensação
de movimento quase cinematográfico. A paleta de cores utilizada por Toulouse-Lautrec,
com seus vermelhos intensos, verdes profundos e amarelos brilhantes, não apenas
dá vida às figuras, mas também reflete a própria essência do cabaré — um lugar
de excessos, de celebração e, muitas vezes, de escapismo.
O
Musée d’Orsay oferece uma perspectiva única sobre a evolução da arte no final
do século XIX, e as obras de Toulouse-Lautrec são um testemunho vibrante da
vida cultural e social daquela época. Ao admirar “La danse au Moulin-Rouge”, é
impossível não se deixar levar pela energia contagiante que a obra emana, uma
energia que é ao mesmo tempo encantadora e inquietante, refletindo as
contradições da vida noturna parisiense — um mundo de beleza e de emoções à
flor da pele.
A
observação feita por Márcio Catunda sobre esta obra revela um entendimento
profundo das sutilezas que Toulouse-Lautrec empregou para capturar o espírito
de Montmartre. Catunda destaca como o pintor conseguiu capsular a essência dos
cabarés, onde a diversão se misturava com a decadência, e a vida noturna era
tanto uma fuga quanto uma celebração. O contraste entre as figuras iluminadas e
as sombras que as cercam não é apenas estético, mas simbólico. Uma visita à
obra de Toulouse-Lautrec não é apenas um encontro com a arte, mas uma imersão
na história cultural de Paris, onde cada pincelada e cada cor evoca uma emoção.
Catunda
então se debruça sobre as obras de Paul Cézanne, cuja maestria na manipulação
de cores e formas o cativa. Ele observa o virtuosismo de Cézanne em “La maison
du pendu, Auvers-sur-Oise”, onde o pintor usa a geometria das cores para criar
uma paisagem de rara profundidade e ausência de figuras humanas, e em “Le Pont
de Maincy”, que transmite a sensação de movimento nas folhas e na água.
Em sua imersão nas obras de
Cézanne, Catunda fica particularmente fascinado pelo modo como o artista
manipula cores e formas, não apenas como elementos visuais, mas como forças
estruturantes da composição. Cézanne não pinta apenas cenas; ele constrói
imagens que evocam profundidade psicológica e complexidade estrutural. Em “La
maison du pendu, Auvers-sur-Oise”, o virtuosismo do pintor é evidente. A obra
apresenta uma casa isolada em uma paisagem que parece se estender
infinitamente, uma visão envolta em uma serenidade inquietante. A ausência de
figuras humanas intensifica a sensação de solidão e mistério, enquanto a
geometria das cores — os
verdes, azuis e marrons que dominam a paleta — confere à cena uma estrutura quase
arquitetônica. Cézanne usa as cores para definir formas e volumes, criando uma
profundidade que parece convidar o observador a se perder no horizonte.
Em outra obra notável, “Le Pont
de Maincy”, Cézanne demonstra seu domínio da técnica ao transmitir movimento e
vitalidade em uma cena aparentemente estática. O cenário do pontilhão, com suas
árvores e águas tranquilas, ganha vida através do uso habilidoso das pinceladas
rápidas e das cores vibrantes. As folhas parecem se agitar com a brisa, e a
água reflete a luz de maneira quase líquida, criando uma ilusão de movimento
contínuo. Ali, Cézanne não está simplesmente representando a natureza; ele está
interpretando-a, infundindo-a com uma energia que transcende a mera
representação.
Essas obras de Cézanne, tão
magnificamente exibidas no Museu d’Orsay, exemplificam a transformação da
paisagem em algo mais do que uma simples cena natural. Sob o olhar atento de
Catunda, o trabalho de Cézanne emerge como uma meditação sobre o poder da
pintura de capturar não apenas a aparência das coisas, mas também sua essência.
O museu, ao exibir essas obras, oferece ao visitante uma oportunidade rara de
contemplar a genialidade de Cézanne em toda a sua complexidade, mostrando como
a arte pode, de fato, redefinir a realidade.
A
sequência de suas impressões inclui a obra de Auguste Renoir, destacando a
leveza e a alegria em “Le bal du moulin de la Galette”, onde a luz filtrada
pelas folhas reflete a felicidade dos participantes. Nesta obra, Renoir
mergulha o espectador em uma atmosfera de despreocupação e hedonismo. A luz,
filtrada pelas folhas das árvores, banha os dançarinos e os frequentadores do
café em um brilho suave, quase etéreo, que reflete a felicidade espontânea dos
participantes. A técnica impressionista de Renoir é evidente na maneira como
ele manipula as cores e a luz para criar uma cena pulsante de vida e movimento,
quase como se os personagens estivessem prestes a se levantar da tela e se
juntar à festa.
Além
de “Le bal du moulin de la Galette”, o museu abriga uma impressionante coleção
de retratos, entre os quais se destacam as representações de personalidades
como Claude Monet e Stéphane Mallarmé. Estes retratos não apenas capturam a
aparência física de seus modelos, mas também revelam a profundidade de suas
personalidades, transportando o espectador para a intimidade desses grandes
nomes da cultura francesa.
Outro
destaque da coleção de Renoir, no d’Orsay, é “Étude: Torse, effet de soleil”,
uma obra que exemplifica a obsessão do pintor pela luz e pela forma. Neste
estudo, Renoir explora a beleza e a luminosidade do corpo feminino, utilizando
a luz do sol para acentuar as curvas e os contornos da figura. O resultado é
uma celebração da sensualidade e da vitalidade, com a pele da modelo brilhando
em um halo dourado que parece emanar de dentro da tela.
A
obra de Van Gogh também ocupa um lugar de destaque nas anotações de Catunda,
que se revela profundamente impactado pela intensidade vibrante das cores. Em
especial, ele menciona a força emocional presente em “A Église
d’Auvers-sur-Oise”. Ele descreve essa obra como um exemplo primordial da
habilidade de Van Gogh em captar não apenas a aparência física de uma cena, mas
também a profundidade emocional subjacente. As pinceladas vigorosas e a paleta
de cores intensas se tornam, sob o olhar de Catunda, uma espécie de linguagem
visual que comunica a complexidade da vida interior do artista. Em “A Église
d’Auvers-sur-Oise”, a igreja quase parece pulsar com a mesma agitação que
atormentava Van Gogh, uma agitação que ele transferiu para a tela com uma
mestria que transforma o simples ato de observar em uma experiência sensorial
profunda.
Além
desta obra-prima, Catunda também se detém sobre “La Guinguette à Montmartre” e
“La Nuit étoilée”. Em “La Guinguette à Montmartre”, o artista não apenas
retrata uma cena cotidiana de lazer, mas infunde nela uma energia que eleva o
banal à categoria do sublime. A maneira como Van Gogh manipula as luzes e as
sombras, como capta o movimento no que seria, para muitos, uma cena trivial,
demonstra sua habilidade de ver além do óbvio.
“La
Nuit étoilée” é, talvez, uma das representações mais sublimes da visão singular
de Van Gogh sobre o mundo ao seu redor. Catunda, em suas anotações, menciona
como essa obra transcende a simples representação de um céu noturno,
transformando-o em um panorama quase místico, onde cada estrela parece brilhar
com uma intensidade que reflete o próprio fervor interior do artista. As cores,
ali, não são apenas um meio para descrever; elas são a expressão da própria
arte de Van Gogh.
Claude
Monet é outro artista que Catunda reverencia, especialmente pela forma como o
pintor captura a exuberância natural, em obras como “Jardin de Giverny” e “La
Cathédrale de Rouen”. Ele admira o brilho e a harmonia das cores, que
transformam as cenas em algo quase mágico. Márcio Catunda vê no artista uma
capacidade singular de capturar a exuberância natural, transpondo para a tela a
vivacidade dos jardins e a imponência das estruturas arquitetônicas com uma
precisão cromática que beira o sublime. Em “Jardin de Giverny”, Monet não
apenas retrata um jardim; ele recria o esplendor de um universo natural em que
cada folha, cada flor, parece vibrar com a energia da vida. As pinceladas leves
e as camadas de cor sobrepostas criam uma sensação de movimento e profundidade
que transporta o espectador para o coração do jardim.
Já
em “La Cathédrale de Rouen”, Monet desafia a percepção do observador ao pintar
a mesma catedral em diferentes momentos do dia, explorando como a luz e a
sombra transformam a aparência da estrutura. Catunda destaca como as nuances de
cor e a delicadeza das pinceladas de Monet capturam não só a aparência física
da catedral, mas também a sua atmosfera espiritual. A harmonia das cores, que
varia do cinza suave ao dourado intenso, transforma a cena em algo
transcendente, um encontro entre o real e o etéreo.
Para
Catunda, Monet é mais do que um pintor; ele é um mago das cores, capaz de
converter o mundano em mágico, de revelar a beleza escondida nas coisas
simples. As obras de Monet, no Museu d’Orsay, não são apenas exposições de
técnica, mas expressões de uma visão artística que busca a beleza em cada
detalhe do mundo natural e arquitetônico.
Entre
os artistas que capturam a atenção de Catunda está Georges Seurat, cujo
pontilhismo revoluciona a abordagem à cor e à forma. Em obras como “Poseuse
assise, de profil”, Seurat utiliza pontos de cor pura que, à distância, se
fundem para criar uma sutileza cromática extraordinária. Catunda se detém na
técnica de Seurat, observando como essa construção meticulosa de pontos não
apenas cria uma nova maneira de ver, mas também envolve o espectador em uma
contemplação ativa, onde a imagem parece vibrar com uma energia latente.
Gustave
Courbet, por outro lado, oferece uma experiência visceral completamente
diferente. “L’Origine du monde”, uma das obras mais controversas de Courbet,
desafia o observador com sua crueza e realismo. Catunda reconhece o impacto
perturbador desta obra, ressaltando como Courbet captura a essência da
realidade sem filtros, desafiando as convenções artísticas e sociais de sua
época. Para ele, o quadro é mais do que uma representação; é uma declaração
ousada sobre a verdade.
Catunda
também explora o trabalho de Henri Fantin-Latour, cujas naturezas-mortas e
retratos evocam uma serenidade contemplativa. Fantin-Latour, com sua habilidade
de capturar a textura e a delicadeza das flores, por exemplo, transporta o
espectador para um mundo de quietude e beleza atemporal. Catunda nota como
essas obras parecem suspensas no tempo, oferecendo um refúgio da agitação do
mundo exterior.
Alfred
Sisley e Camille Pissarro são destacados por Catunda como mestres na captura da
luz e da atmosfera. As paisagens de Sisley, com céus vastos e rios serenos, são
descritas por Catunda como poemas visuais, onde a luz brinca sobre a água e a
vegetação, criando uma sensação de harmonia natural. Pissarro, por sua vez, é celebrado
por sua habilidade de capturar o cotidiano com uma sensibilidade impressionista
que transforma cenas comuns em momentos de pura poesia visual.
Catunda
conclui suas observações com uma menção ao simbolismo de Puvis de Chavannes e Gustave
Moreau, onde o elemento onírico e mitológico é destacado, mostrando a amplitude
de suas experiências estéticas no Museu d’Orsay. Essas “anotações” são,
portanto, uma jornada pela arte que transcende a mera observação para se tornar
uma contemplação profunda da beleza e da criatividade humanas.
O Desafio da Mobilidade e o Desejo de Retorno
Na
quarta viagem a Paris, Márcio Catunda encontrou-se diante de um cenário
inesperado: greves paralisavam a cidade. Trens parados, ruas cheias de
manifestantes e o transporte público em caos. O poeta e viajante, que sempre
percorreu as ruas parisienses com a liberdade de um flâneur, desta vez
enfrentou o desafio de uma cidade em convulsão. No entanto, para alguém como
Catunda, cujas viagens são tão interiores quanto exteriores, a adversidade não
foi um obstáculo intransponível, mas uma oportunidade de explorar Paris com um
novo olhar.
As
greves, que poderiam ter transformado a experiência em um pesadelo logístico,
tornaram-se, para ele, uma camada adicional da cidade, revelando a pulsação
viva de uma metrópole que se reinventa mesmo em meio ao tumulto. Catunda
adaptou-se à situação com a flexibilidade de quem compreende que a mobilidade,
em sua essência, vai além do movimento físico. Ele mergulhou nas ruas laterais,
redescobrindo os pequenos cafés, as livrarias escondidas e os jardins
esquecidos pelos turistas apressados. Cada obstáculo no caminho tornou-se uma
oportunidade para novas descobertas, como se a cidade se desnudasse para ele em
suas formas mais autênticas.
Contudo,
por trás dessa adaptação, havia um desejo persistente: o retorno. Não apenas o
retorno físico a um lugar de descanso ao final de cada dia, mas um retorno
simbólico a uma Paris que ele conheceu em outras épocas, mais serena e menos
conturbada. Este desejo de retorno manifestou-se de forma inusitada em um
pequeno incidente no hotel onde estava hospedado. Ao final de um longo dia de
caminhadas, já tarde da noite, Catunda percebeu que havia perdido a chave do
quarto. O incidente, que poderia ser um simples contratempo, tornou-se para ele
um símbolo da complexa relação que ele mantinha com a cidade.
A
chave, pequena e aparentemente insignificante, passou a representar a conexão
entre ele e Paris. Era a chave de um lugar que ele chamava de “lar” temporário,
mas também a chave para um universo de memórias, experiências e visões poéticas
que ele coletava a cada visita. Ao recuperá-la, depois de uma busca quase
desesperada, Catunda sentiu uma sensação de alívio que transcendia o simples
acesso ao quarto. Era como se ele tivesse reafirmado sua conexão com a cidade,
confirmando que, apesar das dificuldades, Paris sempre estaria lá para
acolhê-lo, com todos os seus desafios e encantos.
Este
episódio ressoou profundamente em seu espírito, levando-o a refletir sobre sua
relação contínua e inquebrantável com a capital francesa. No livro “Paris e Seus
Poetas Visionários”, Catunda narra essa experiência não apenas como uma anedota
de viagem, mas como uma metáfora de sua jornada pessoal e artística. Paris, com
todas as suas camadas de história, cultura e modernidade, é para ele um espelho
no qual se vê refletido, uma cidade que o desafia a cada visita, mas que também
o acolhe como um filho pródigo, sempre desejoso de retornar ao seu seio.
Em
suma, a quarta viagem de Márcio Catunda a Paris, marcada pelas greves e pelo incidente
com a chave do hotel, não foi apenas uma aventura urbana, mas uma reafirmação
de sua profunda e eterna ligação com a cidade. Uma ligação que transcende as
dificuldades da mobilidade e se enraíza no desejo constante de retorno, de
reencontro com o que há de mais essencial na alma de Paris e, por extensão, na
alma do próprio poeta.
Vicente
Freitas
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