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O
cinema sempre desempenhou um papel fundamental na formação de percepções
políticas e sociais. Mais do que uma ferramenta de entretenimento, ele é um
meio de manipulação da narrativa, capaz de direcionar emoções, valores e
crenças de maneira sutil e, muitas vezes, imperceptível para o espectador. Ao
contar histórias, um filme pode exaltar ou demonizar determinados eventos
históricos, criando uma sensação de justiça ou injustiça, heróis ou vilões,
dependendo de como os fatos são apresentados.
A
história do cinema está repleta de exemplos de como a sétima arte foi usada
para influenciar massas. Filmes como O Nascimento de uma Nação (1915) e O
Triunfo da Vontade (1935) foram utilizados para consolidar discursos políticos.
Hoje, a estratégia é mais sutil, mas não menos eficaz. A construção da
narrativa cinematográfica atual segue um padrão: cria-se um enredo emotivo, uma
mensagem de aparente justiça social e, muitas vezes, uma revisão histórica que
serve a determinados interesses ideológicos.
Não
é coincidência que um filme sobre ditadura receba um Oscar em um momento em que
a própria democracia enfrenta ameaças. O timing dessas premiações sempre
levanta questões sobre a intencionalidade política por trás delas. A história
do próprio Oscar demonstra que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas
frequentemente utiliza a premiação como uma ferramenta de alinhamento
ideológico.
O
fenômeno mais paradoxal é a celebração do filme pela esquerda política, ao
mesmo tempo em que esta mesma corrente apoia regimes autoritários ao redor do
mundo. A incoerência é evidente: enquanto se denuncia a repressão do passado,
há uma condescendência preocupante com ditaduras contemporâneas, desde Cuba e
Venezuela até China e Coreia do Norte. Isso levanta uma questão crítica: o
combate à ditadura é uma posição príncipe da esquerda ou apenas uma ferramenta
retórica para deslegitimar adversários políticos?
Seria
o espectador alienado ao não perceber essa manipulação narrativa? Essa é uma
questão central. A alienação ocorre quando se aceita passivamente a mensagem
sem questionamento crítico, permitindo que o discurso ideológico infiltre-se na
consciência coletiva como uma verdade inquestionável. Esse fenômeno é
amplificado pela atual cultura de polarização, na qual a narrativa política se
impõe pela repetição massiva de discursos e imagens.
A
esquerda contemporânea, ao celebrar determinadas produções cinematográficas,
parece ignorar o fato de que seus princípios de justiça e democracia entram em
contradição quando apoia regimes autoritários. A história mostra que todas as
correntes políticas são suscetíveis a utilizar a cultura como instrumento de
legitimação ideológica. O desafio do espectador crítico é, portanto,
desconstruir essa narrativa e questionar as reais intenções por trás da
produção cinematográfica.
O
cinema é uma poderosa ferramenta de construção de realidades. A forma como
eventos históricos são retratados tem um impacto direto na percepção política
do público. Quando um filme sobre ditadura é celebrado em um período de
ascensão autoritária, é necessário um olhar mais profundo para compreender
quais interesses estão sendo atendidos. A análise crítica é essencial para
evitar ser manipulado por narrativas que podem estar moldando o pensamento
político de maneira imperceptível.
Um filme que
condena a ditadura é comemorado por esquerdistas que apoiam outras ditaduras e
gritam “sem anistia”. Quem já viu tamanha alienação?
Vicente Freitas Liot
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