Recebo email de Soares Feitosa dando-me conta dos livros de Felisberto de Carvalho. Livros de leitura, utilizados nos ‘nordestes’ do Brasil, nos finais do século XIX até meados do XX. Eram ilustrados, tinham capas coloridas e eram ou são muito bem elaborados.
Nicodemos Araujo, poeta e historiador, nascido em Bela Cruz, em 1905, afirma ter aprendido as primeiras letras através dos livros de Felisberto; Patativa do Assaré, idem.
S.F., numa belíssima crônica intitulada ‘O assombroso cão do segundo livro’, nos dá conta que na escola, até os anos 50, meninos do ABC, da Cartilha, do Primeiro Livro, do Segundo Livro e do Terceiro Livro, eram misturados numa sala só [ai, Professora!] no entanto, a lição de cada um era tomada com disciplina e energia, graças, talvez, a palmatória de angico [mas como dói!] com um furo no meio, que todos nós sabemos muito bem sua serventia.
Mas ele quer mesmo nos falar é do cão. O cão do Segundo Livro. Prefiro falar de cachorros. Que aqui pra nós cachorro é cachorro e cão é cão mesmo – diz-se sempre como sinônimo demoníaco – satanás, diabo, lúcifer, belzebu.
O desprestígio moral do cão, afirmam, teria sido trazido ao Brasil pelos africanos, mesmo assim não há explicação convincente para o cão demoníaco. Segundo Câmara Cascudo, em Angola e na maioria dos idiomas bantos onde o português se projetou, a palavra fascinante para o negro insultar o companheiro foi sempre ‘diabu’. Só no Brasil há, na sinonímia, o cão, cão-coxo, cão-preto.
Nos Açores, entretanto, o demônio é chamado cão-negro e cão-tinhoso. O certo é que o cão fiel, corajoso e valente das estórias populares não nos veio da África nem do Oriente.
Segundo S.F., cão macho ganha nome de feras, se fêmea, nome de peixe. Luis Gonzaga, que a partir de 46, divulgou o Baião pelas estações de rádio do Rio de Janeiro, e depois por todo o Brasil, numa de suas músicas [Samarica Parteira?] diz também que cachorro de pobre tem sempre nome de peixe: piaba, tainha, traíra, baleia e por aí vai.
Minha vizinha assegura – o nome de peixe da sua cachorrinha tem outra garantia: não ficar hidrófoba. Sua cadela se chama Piranha. E eu pensando outra coisa. Malvadeza. Coitada.
Valeu, Francisco, sua crônica está um primor. E esses livros na internet é uma maravilha. Viva Felisberto de Carvalho.
Grande e fraterno abraço do seu leitor
Vicente Freitas
03 / 02 / 2006
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