sábado, novembro 20, 2010

Carência Afetiva Versus Carência Sexual

Irina Sopas 
Em um trecho da música “Não há estrelas no céu”, do célebre cantor português Rui Veloso, ele afirma: “Por mais amigos que tenha, sinto-me sempre sozinho”. Será isso verdade? Não sei quanto a vocês, mas decidi formar ideias sobre o assunto. 

Desconheço se é unânime, mas qual de nós já não esteve rodeado de muitas pessoas, porém, mesmo assim, continuou se sentindo sozinho? Por outro lado, quantos terão saído por aí sem freios, buscando relações sexuais, e no final sentiu aquele vazio, que acreditava fosse desaparecer? 

É! Realmente isso acontece com mais frequência do que possamos imaginar. Talvez, porque a maioria de nós desconheça o verdadeiro sentido de “carência”, visto que o conceito se apresenta de muitas formas (carência econômica, legal, moral, etc.). Portanto, vamo-nos ater à concepção que nos interessa: a do âmbito da Psicologia. Buscaremos, paralelamente, os significados das palavras “afetiva” e “sexual”. 

O termo “carência” vem do latim vulgar carentia. Significa “falta de algo necessário”, “privação”, “necessidade”. 

Com relação à origem da palavra “afetiva”, sabe-se que parte do latim affectivu, relativo a afeto (do latim affectus), tendo como acepção “afeição por alguém”, “inclinação”, “simpatia”, “amizade”. É um estado emocional ligado à realização de um impulso que, reprimido, pode transformar-se em angústia. 

Caminhemos agora para o conceito do vocábulo “sexual”, que nada mais é do que um adjetivo relativo ao sexo. Etimologicamente, deriva do latim sexu, podendo apresentar diversos significados: desde a diferença física ou a conformação especial que distingue o macho da fêmea – conjunto de indivíduos que tem o mesmo sexo – quanto referir-se à relação sexual em si (coito, cópula). Este último sentido é o que nos desperta a curiosidade. Que tal uma pequena junção de signos?

A carência afetiva pode ser interpretada como uma necessidade de afeto, simpatia, amizade. Por isso, pode resultar na necessidade de um relacionamento com outrem. No entanto, não implica obrigatoriamente num relacionamento sexual. Por outro lado, a carência sexual é a necessidade da realização do coito; ou, se preferirem, da cópula carnal; da união sexual. 

Agora, pergunto: qual das duas carências é a mais fácil de ser suprida? A afetiva é intrínseca ao ser humano seja pela solidão circunstancial, seja pela sentida na infância. Desse modo, é muito mais difícil, por vezes quase impossível, de ser resolvida. Daí, aquela frivolidade após o coito; ou mesmo, a sensação de se estar só, em meio à multidão. Já a privação sexual é de solução bem mais simples e acessível. Até sem sair de casa, pode ser atendida. 

Em vista dos conceitos acima, é possível pôr fim à distorção de significados, que nos tem atordoado durante muito tempo. Assim sendo, agora que você se encontra um pouco mais munido, do que no início do texto, espero que consiga distinguir com clareza qual carência que o assombra (ou não). Pense de forma racional, antes de sair por aí de maneira imoderada, à procura de alguém ou algo para acabar com a sua carentia. Imagine: se a sua carência não for nem de caráter afetivo nem sexual, mas sim, financeiro, sair para “encher a cara” em bar ou ir para uma boate à procura de “alguém”, só vai aumentá-la ainda mais. E você não quer isso, pois não? Então reflita, reflita e reflita. Tentarei fazer o mesmo, sempre que me sentir carente.

Irina Sopas ® 2010 

Um comentário:

  1. Gostei da maneira como o tema foi abordado, e forma esclarecedora que se apresentou o texto.

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