terça-feira, janeiro 18, 2011

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele
ou outro arquétipo qualquer,
mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador
e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito
nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem
o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada
e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo,
quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira,
metade seriedade.
Não quero risos previsíveis,
nem choros piedosos.
Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.

Quero-os metade infância e outra metade velhice!

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa.


Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios,
crianças e velhos, nunca me esquecerei
de que "normalidade"
é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

2 comentários:

  1. Meu Deus. É maravilhoso. Hoje um amigo do face enviou esse texto, mas, eu ainda estou meio em transe. Eu não conhecia. Como é bom não ter conhecido certas coisas na época errada. Isso pôs no meu rosto meu melhor sorriso hoje.

    ResponderExcluir
  2. Como grande parte da obra de Oscar Wilde, esse texto é incrível. Mostra para mim o que todos deviam buscar como amigos.
    E ao mesmo tempo de deixa mais calmo por não ser "normal", afinal ser normal é chato.

    =*

    ResponderExcluir