Antônio Sales |
Somente a Padaria
Espiritual (1892-1898) daria um capítulo à parte e de relevo na
biografia de Antônio Sales, pois foi tal agremiação, com o seu jornal/revista O
Pão (que morreu de "cachexia pecuniária"; para não fugir à
regra, ontem, hoje, amanhã) um dos empreendimentos mais originais do Ceará ou
do inteiro Brasil. Luciano Maia edita hoje um jornal literário com o mesmo
título.
O poeta
Antônio Sales está naquela encruzilhada problemática, estética e socialmente,
que marcou o fim de um século e o começo do outro, ou seja, no Brasil, na
metrópole e na província, o Romantismo ainda modelava um Parnasianismo algo
original: o soneto imperava como forma eletiva, mas era o sentimento romântico
que preponderava por sobre um tipo de poema que a Escola de Bilac repudiava.
Entre os
poetas da época, de feição romântico-parnasiana, como Alfredo Castro, Cruz
Filho, Júlio Maciel, Carlos Gondim, Otacílio de Azevedo, é curioso notar que
alguns estudiosos, comumente, estavam colocando alguns deste poetas na trilha
do Pré-Modernismo, como é o caso de Cruz Filho e Américo Facó, na indicação de
Fernando Góes.
O certo é que
a amostragem de sua poesia é o melhor caminho para o leitor aquilitar de suas
reais tendências, ou não precisará disso para apreciar alguns momentos de
beleza e emotividade, como no caso está o poeta Antônio Sales, que publicou a
sua primeira coletânea, Versos Diversos, em 1890, e Trovas
do Norte, de 1895. Poesias, de 1902, reúne poemas dos livros
anteriores, com algumas modificações. Minha Terra, considerado a
sua obra-prima, é de 1919. A Obra poética de Antônio Sales foi reunida em 1968,
com o título referido.
Antônio Sales
nasceu em Parazinho, município de Paracuru, no dia 13 de junho de 1868. Estudou
as primeiras letras na terra natal e na cidade de Soure (Caucaia), mas teve que
parar, para enfrentar a dura vida do comércio, em Fortaleza, quando apenas
tinha 14 anos de idade. Pai cego, família pobre, o poeta passou oito anos nesse
trabalho, mas em 1888 conseguiu a nomeação para um cargo da Intendência de
Socorros Públicos de Fortaleza.
Entrando para
a política, alcançou importantes cargos, ao lado de sua atividade jornalística
e literária, o que deu na Padaria Espiritual. Irrequieto,
insatisfeito, Antônio Sales parte para o Rio de janeiro (1897) e vai trabalhar
no Tesouro Nacional e no Correio da Manhã, recém-fundado. Participou de rodas
intelectuais no Rio e chegou a conviver com os fundadores da Academia
Brasileira de Letras, mas não quis candidatar-se a uma cadeira.
Em 1920 está
de volta ao Ceará, onde chega bafejado pelo sucesso do lançamento de Minha
Terra. Dois anos depois contribui para a reorganização da Academia Cearense
de Letras. Morava em Jacarecanga, em casa modesta. Faleceu no dia 14 de
novembro de 1940.
Pátria Velha
Este país vai
todo em polvorosa!
A anarquia
por toda parte impera,
a lei sucumbe
inerme e dolorosa,
a tirania
estúpida prospera.
Da traição
medra a planta venenosa,
a semente dos
ódios prolifera,
a dilapidação
campeia e goza
das vacas
gordas a ditosa era...
As eleições
são conto de vigário,
couro e
cabelo tira-nos o erário,
geme a
lavoura, os bancos não têm fundos
Mas — para
consolar-nos deste inferno —
brevemente a
mensagem do governo
dirá que
estamos no melhor dos mundos!
Antônio Sales
Pátria Velha
Este país vai
todo em polvorosa!
A anarquia
por toda parte impera,
a lei sucumbe
inerme e dolorosa,
a tirania
estúpida prospera.
Da traição
medra a planta venenosa,
a semente dos
ódios prolifera,
a dilapidação
campeia e goza
das vacas
gordas a ditosa era...
As eleições
são conto de vigário,
couro e
cabelo tira-nos o erário,
geme a
lavoura, os bancos não têm fundos
Mas — para
consolar-nos deste inferno —
brevemente a
mensagem do governo
dirá que
estamos no melhor dos mundos!
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