quinta-feira, janeiro 13, 2011

Poetas cearenses - Antônio Sales

Antônio Sales
Mais conhecido pelo seu romance regionalista Aves de Arribação, de 1914, Antônio Sales foi também historiador literário, poeta e idealizou e projetou, nacionalmente, a Padaria Espiritual, da qual era o seu padeiro-mor.

Somente a Padaria Espiritual (1892-1898) daria um capítulo à parte e de relevo na biografia de Antônio Sales, pois foi tal agremiação, com o seu jornal/revista O Pão (que morreu de "cachexia pecuniária"; para não fugir à regra, ontem, hoje, amanhã) um dos empreendimentos mais originais do Ceará ou do inteiro Brasil. Luciano Maia edita hoje um jornal literário com o mesmo título.

O poeta Antônio Sales está naquela encruzilhada problemática, estética e socialmente, que marcou o fim de um século e o começo do outro, ou seja, no Brasil, na metrópole e na província, o Romantismo ainda modelava um Parnasianismo algo original: o soneto imperava como forma eletiva, mas era o sentimento romântico que preponderava por sobre um tipo de poema que a Escola de Bilac repudiava.

Entre os poetas da época, de feição romântico-parnasiana, como Alfredo Castro, Cruz Filho, Júlio Maciel, Carlos Gondim, Otacílio de Azevedo, é curioso notar que alguns estudiosos, comumente, estavam colocando alguns deste poetas na trilha do Pré-Modernismo, como é o caso de Cruz Filho e Américo Facó, na indicação de Fernando Góes.

O certo é que a amostragem de sua poesia é o melhor caminho para o leitor aquilitar de suas reais tendências, ou não precisará disso para apreciar alguns momentos de beleza e emotividade, como no caso está o poeta Antônio Sales, que publicou a sua primeira coletânea, Versos Diversos, em 1890, e Trovas do Norte, de 1895. Poesias, de 1902, reúne poemas dos livros anteriores, com algumas modificações. Minha Terra, considerado a sua obra-prima, é de 1919. A Obra poética de Antônio Sales foi reunida em 1968, com o título referido.

Antônio Sales nasceu em Parazinho, município de Paracuru, no dia 13 de junho de 1868. Estudou as primeiras letras na terra natal e na cidade de Soure (Caucaia), mas teve que parar, para enfrentar a dura vida do comércio, em Fortaleza, quando apenas tinha 14 anos de idade. Pai cego, família pobre, o poeta passou oito anos nesse trabalho, mas em 1888 conseguiu a nomeação para um cargo da Intendência de Socorros Públicos de Fortaleza.

Entrando para a política, alcançou importantes cargos, ao lado de sua atividade jornalística e literária, o que deu na Padaria Espiritual. Irrequieto, insatisfeito, Antônio Sales parte para o Rio de janeiro (1897) e vai trabalhar no Tesouro Nacional e no Correio da Manhã, recém-fundado. Participou de rodas intelectuais no Rio e chegou a conviver com os fundadores da Academia Brasileira de Letras, mas não quis candidatar-se a uma cadeira.

Em 1920 está de volta ao Ceará, onde chega bafejado pelo sucesso do lançamento de Minha Terra. Dois anos depois contribui para a reorganização da Academia Cearense de Letras. Morava em Jacarecanga, em casa modesta. Faleceu no dia 14 de novembro de 1940.


Pátria Velha

Este país vai todo em polvorosa! 
A anarquia por toda parte impera,
a lei sucumbe inerme e dolorosa,
a tirania estúpida prospera.

Da traição medra a planta venenosa,
a semente dos ódios prolifera,
a dilapidação campeia e goza
das vacas gordas a ditosa era...

As eleições são conto de vigário,
couro e cabelo tira-nos o erário,
geme a lavoura, os bancos não têm fundos

Mas — para consolar-nos deste inferno —
brevemente a mensagem do governo
dirá que estamos no melhor dos mundos!

Antônio Sales

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