Palimpsesto de Arquimedes
O palimpsesto de Arquimedes é o nome pelo qual se conhece habitualmente um palimpsesto - texto antigo escrito sobre outro anterior empergaminho - formando um códice, que originariamente foi uma cópia em grego de diversas obras de Arquimedes, antigo matemático, físico e engenheiro de Siracusa e de outros autores. Posteriormente foi apagado rudimentarmente e usado para escrever salmos e orações de um convento.
O Palimpsesto de Arquimedes inclui cópias de diversas obras do matemático grego:
- ‘‘Sobre o equilíbrio dos planos’’
- ‘‘Sobre as espirais’’
- ‘‘Medida de um círculo’’
- ‘‘Sobre a esfera e o cilindro’’
- ‘‘Sobre os corpos aboiantes’’ (única cópia conhecida em grego)
- ‘‘O método dos teoremas mecânicos’’ (única cópia conhecida)
- ‘‘Stomachion’’ (a cópia mais completa de todas as conhecidas)
Arquimedes viveu no século III a.C., mas o palimpsesto não foi escrito até o século X por um escriba anônimo. Em algum momento do século XII o manuscrito foi desatado, rascado e lavado, com outros seis manuscritos em pergaminho, entre os que se incluía um com obras de Hipérides. As folhas de pergaminho foram dobradas pela metade e reutilizadas para copiar um texto de caráter litúrgico de 177 páginas, de maneira que cada página do escrito antigo se converteu em duas páginas do texto litúrgico. Contudo, o apagado não foi completo, e a obra de Arquimedes está agora acessível graças a que o trabalho científico e acadêmico realizado entre 1998 e 2008 usando métodos de processamento digital de imagens obtidas usando diversas frequências de radiação, incluindo radiação infravermelha, luz ultravioleta, e raios X.[2][3] O acadêmico Constantine Tischendorf visitou Constantinopla (a atual Istambul) na década de 1840, e intrigado pelo escrito matemático grego visível no palimpsesto, levou com ele uma das suas páginas. Esta página atualmente encontra-se na Biblioteca da Universidade de Cambridge. Contudo, seria o filólogodinamarquês Johan Ludvig Heiberg (1854-1928) que se daria conta, quando inspecionou o palimpsesto em 1906, que se tratava de um texto de Arquimedes, e que continha obras que se acreditavam perdidas.
Johan Ludvig Heiberg tomou fotografias da obra, a partir das quais obteve transcrições que publicou entre 1910 e 1915. Contudo, o seu trabalho ficou interrompido pelo começo da primeira guerra mundial. Pouco depois, a obra foi traduzida para o inglês por Thomas Heath, momento em que começou a ser mais acessível e conhecida pelos coletivos de historiadores, físicos e matemáticos. O texto ficou em posse da biblioteca de Constantinopla e cedo desapareceu. Desconhece-se como reapareceu na França após a Primeira Guerra Mundial como propriedade de um colecionador particular que assegura que foi comprado em Istambul pelo seu avô.[4]
Desde a década de 1920 o manuscrito permaneceu em Paris, na posse de um colecionador de manuscritos e dos seus herdeiros. Em 1998 a discussão sobre a propriedade do manuscrito chegou à Corte Federal do Estado de Nova Iorque, no caso que enfrentava o Patriarcado de Jerusalémcontra Christie’s, Inc. Segundo o Patriarcado, o manuscrito pertencia à biblioteca do mosteiro de Mar Saba, que o adquirira em 1625, sendo roubado de um dos seus mosteiros na década de 1920. Porém, o juiz determinou em favor da casa Christie’s, considerando que a ação reivindicatória do Patriarcado de Jerusalém estava prescrita. Após a sentença, Christie’s subastou o palimpsesto, que se vendeu por dois milhões de dólares a um comprador anônimo. Simon Finch, o representante do comprador, indicou que se tratava de um americano que trabalhava na indústria da alta tecnologia, e matizou que não se tratava de Bill Gates.[5] A revista alemã ‘‘Der Spiegel’’ informou de que o comprador provavelmente poderia ser Jeff Bezos.[6]
O Palimpsesto de Arquimedes foi submetido entre 1999 e 2008 a um intenso estudo no Museu Walters, em Baltimore, Maryland, bem como a um processo de restauração (o pergaminho sofrera deterioro por efeito do mofo). Os trabalhos foram dirigidos pelo Dr. Will Noel, curador de manuscritos do Museu, e sob a gestão de Michael B. Toth, com a Dra. Abigail Quandt encarregue dos trabalhos de conservação do manuscrito.
Por outro lado, uma equipa de cientistas usou um sistema de processamento computacional das imagens digitais de várias faixas espectrais, entre as que se incluíam a luz ultravioleta e a visível, para revelar a maior parte do texto oculto, incluindo a obra de Arquimedes. Após processar e digitalizar o palimpsesto completo em três faixas espectrais até 2006, em 2007 redigitalizaram a imagem do palimpsesto em 12 faixas espectrais.[7] A equipa processou digitalmente as imagens para revelar a maior parte do texto oculto. Também digitalizaram as imagens originais de Heidberg. Finalmente, Reviel Netz, da Universidade de Stanford, e Nigel Wilson criaram uma transcrição do texto, recheando os vazios da transcrição de Heiberg com as novas imagens. [8].
Adicionalmente, em algum momento posterior a 1938, algum proprietário do manuscrito falsificou quatro imagens religiosas de estilo bizantino incluídas no manuscrito com a finalidade de incrementar o seu valor. Acreditava-se que estas imagens tornaram completamente ilegível o texto que havia debaixo, mas em maio de 2005 um sistema de raios X de alta definição foi empregue para tentar revelar aquelas partes do pergaminho. A fluorescência produzida com os raios X permitiu aceder também a essa parte do texto oculto.[9]
Em abril de 2007 foi anunciada a descoberta de um novo texto no palimpsesto, consistente num comentário à obra de Aristóteles atribuído a Alexandre de Afrodisias. Anteriormente tinha-se descoberto um texto de Hipérides, um político ateniense do século IV a.C.,[1] e em particular do seu discurso ‘‘Contra Diondas’’, que foi publicado em 2008 na revista acadêmica alemã ‘‘Zeitschrift für Papyrologie und Epigraphik’’, vol. 165.[10]
Em 29 de outubro de 2008, coincidindo com o décimo aniversário da aquisição do palimpsesto por leilão, toda a informação derivada do documento, incluindo imagens e transcrições, foram publicadas na Internet para o seu uso sob Licenças Creative Commons, e as imagens processadas do palimpsesto foram publicadas em Google Livros.[11]
Nenhum comentário:
Postar um comentário