Na obra “Albertus ou L’ame et le péché”, Théophile Gautier ergue uma torre de marfim, um refúgio inalcançável, onde a poesia reside, distante das vicissitudes prosaicas da vida mundana. Sua visão da poesia como um santuário solene, longe das injunções políticas e das urgências sociais, retrata o poeta como um eremita da palavra, um contemplador melancólico que se envolve na meditação profunda, alheio ao tumulto.
Gautier delineia o poeta como um
ser apartado, imerso em sua própria introspecção, tecendo imagens e sons não
para a utilidade prática, mas como uma expressão pura de arte e de imaginação.
Nessa torre, longe dos clamores da rua e das demandas da sociedade, a poesia é
desprovida de propósito utilitário; ela se torna um fim em si mesma, um vórtice
de beleza que transcende as limitações temporais e políticas.
A linguagem poética, segundo
Gautier, não é mera comunicação; é um artesanato meticuloso, uma joia lapidada
em palavras. Cada sílaba é uma pedra preciosa, cada verso, um ornamento da
imaginação. O poeta, como um ourives, molda a linguagem para capturar não
apenas a essência das coisas, mas também a essência da própria alma.
No cerne da criação poética,
Gautier vislumbra a ociosidade como uma condição necessária. É na tranquilidade
do tempo livre que o poeta encontra a liberdade para explorar os recantos mais
profundos de sua imaginação. Longe das exigências da vida cotidiana, ele se entrega
à contemplação solitária, buscando inspiração nas sombras do autoexílio.
A solidão do poeta, para Gautier,
é uma escolha deliberada, uma renúncia aos compromissos da vida mundana, em
favor da busca pela verdadeira essência da arte. Nesse isolamento, o poeta se
conecta não apenas consigo mesmo, mas com algo maior e mais transcendente. É na
solidão que ele encontra a verdadeira comunhão com o divino, transformando a
dor da alienação em êxtase estético.
Gautier argumenta que a poesia é
uma forma de evasão da realidade mundana, um meio pelo qual o poeta transcende
as limitações da existência terrena e alcança as alturas do sublime. Ao criar
mundos imaginários e explorar temas fantásticos, o poeta se liberta das amarras
do tempo e do espaço, mergulhando nas profundezas do inconsciente coletivo.
Mas a poesia, para Gautier, é
mais do que mera evasão; é um luxo desnecessário, mas essencial para a
felicidade. Assim como as joias preciosas e os objetos de arte, a poesia
enriquece nossas vidas, trazendo uma beleza e uma alegria incomensuráveis. Em
um mundo cada vez mais dominado pelo pragmatismo e pela utilidade, a poesia
continua a brilhar como um farol de luz, lembrando-nos da verdadeira essência
da beleza e da arte.
No seu argumento, Gautier
reafirma a dignidade do poeta e da poesia, mesmo em face de uma era que
valoriza cada vez mais o utilitarismo e o materialismo. A verdadeira grandeza
do poeta, sugere ele, reside em sua capacidade de criar obras de beleza pura e
desinteressada, que elevam a alma e inspiram o espírito. Em meio às
vicissitudes da vida moderna, a poesia continua a ser uma fonte de esperança, convidando-nos
a contemplar a verdadeira essência da beleza e da verdade.
VICENTE FREITAS
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