quarta-feira, novembro 21, 2007
Aos políticos do Brasil ¹
Dai-me, Senhor, assessoria
para eu falar aos políticos do Brasil.
Será que político escuta alguém?
Adianta falar a políticos?
E será que tenho coisas a dizer-lhes
que eles não saibam, eles que transformam
a administração em maligno esquecimento?
Adianta-lhes, Senhor, saber alguma coisa,
quando perdem os olhos
para toda paisagem,
perdem os ouvidos
para toda melodia
e só vêem, só pensam
num salário de sua própria legislação?
Cegos, surdos, falantes – felizes?–
[são os políticos
enquanto políticos. Antes, depois
são gente como a gente, no pedestre dia-a-dia.
Mas quem foi político sabe que outra vez
voltará à indesejável invalidez
que é signo de miséria exterior.
Político é o ser fora do tempo,
fora de obrigação e CPF,
ISS, ICMS, IPTU, INSS.
Os códigos, desarmados, retrocedem
de sua porta, as multas envergonham-se
de alvejá-lo, as guerras, os tratados
encolhem o rabo diante dele, em volta dele.
O tempo, afiando sem pausa a sua foice,
espera que o político crie vergonha na cara.
Mas nascem todo dia políticos
novos, reprovados, inoperantes,
e ninguém ganha nesta baderna.
Pois politicar é destino dos humanos,
destino que regula
nossa dor, nossa ambição, nosso inferno interior.
E quem vive, atenção:
cumpra sua obrigação de politicar,
sob pena de viver apenas na aparência.
De ser o seu cadáver itinerante.
De não ser. De estar, ou nem estar.
O problema, Senhor, é como aprender, como exercer
A “arte” de politicar, que audiovisual nenhum ensina,
e vai além de toda universidade.
Pobre de quem não aprendeu direito,
ai de quem nunca estará maduro para aprender,
triste de quem não merecia, não merece politicar.
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1. Poema da série “Brincando com Drummond”.
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