quinta-feira, julho 22, 2010

Jornalismo sem diploma

Luiz Otávio
"Faxineira já tem registro de jornalista", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br)

"A mais recente jornalista profissional de Minas Gerais, com registro precário obtido junto à Delegacia Regional do Trabalho, não é um escriba ocasional interessado em publicar seus textos eventuais ou experimentais em qualquer publicação, ou algum aventureiro que deseje ver seu nome impresso para satisfazer vaidades pessoais ou visando fins mais ou menos confessáveis. Trata-se de Maria D’Ajuda Silva, de 49 anos, a ‘Lia’, que exerce, com muita eficiência, simpatia e dignidade, as funções de faxineira do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) e, desde os nove anos de idade, vem trabalhando nesta área ‘para ajudar a família’.
Ela conseguiu se registrar sob o número 2001.61.00.025946-3 - MG 07243 JP, através de liminar de ação civil pública, conforme atestou a chefe do setor de Identificação Profissional da DRT/MG, Marluce Silva Rocha. Caso queira - ou consiga - está provisoriamente apta a exercer a profissão, da qual confessa não entender nada, mas que pretende aprender, ‘quem sabe dentro de uns cinco ou seis anos, se estudar muito’. Lia mal completou a sétima série do Primeiro Grau e decidiu virar jornalista por sugestão ‘de um rapaz gordinho e muito falante, que não sai aqui do sindicato’.
‘Quero aprender a ser jornalista’, diz Lia, que confessa não entender nada do assunto e só decidiu procurar o registro na expectativa de, um dia, ‘conseguir melhorar de vida’. Para tanto, ela assegura que lê muito - ‘todos os papéis que me entregam na rua’- mas escreve ‘muito pouco, quase nada’. Promete também que, agora, vai começar a leitura de um livro que encontrou na biblioteca do sindicato, ‘uma história de um pai, uma mãe e um filho, ou coisa parecida. Peguei o livro porque sabia que ia ser jogado fora’. Ela explica que está lendo mais especialmente nos últimos tempos, depois que seu aparelho de televisão estragou. ‘Ajuda a gente a dormir’, assinala.
Para conseguir seu registro precário de jornalista profissional, Lia, por sugestão do tal sujeito gordinho e falante, levou à DRT sua carteira de identidade, CPF e título de eleitora. Agora, está em plena condição legal de ser jornalista. ‘Gosto muito de notícia, mas não de notícia ruim’, ressalta, destacando que todas as noites não perde o Jornal Nacional, da Rede Globo. Confessa que escreve mal, ‘pois não tenho prática’, mas tem certeza de que, com o tempo, vai aprender. ‘Quando ficar boa, quero mesmo é escrever para jornal. Mas gostaria muito também de mexer com computador, mesmo tendo um pouco de medo daquela coisa’.
O diretor do SJPMG, Délio Rocha, afirma que, sob hipótese alguma, Lia tem condições de conseguir inscrever-se na entidade para receber sua carteira de identificação profissional. ‘Não aceitamos ninguém com registro precário e já o negamos a incontáveis pessoas que têm aparecido por aqui com sua carteira profissional contendo esta ridícula anotação’, adverte. Ele informa ainda que os portadores deste tipo de registro, se assim o desejarem, podem até recorrer à Justiça para tentarem ingressar no sindicato. ‘Aceitaremos a briga judicial, até as últimas instâncias. Mas vamos resguardar com todos os recursos legais a dignidade da profissão’."

2 comentários:

  1. Nenhum país civilizado exige diploma para os jornalistas. Só no Brasil, através de mecanismos criados pela ditadura militar. Muito me admira que jornalistas e sobretudo os sindicatos que sofreram com a ditadura defendam o contrário.

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  2. Paulo Andrade.

    Faço minha as suas palavras.

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