terça-feira, março 29, 2011

Claude Lévi-Strauss

Autor: Vicente Freitas

Claude Lévi-StraussClaude Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, a 28 de novembro de 1908, e morreu na noite de sábado, 31 de outubro de 2009. Antropólogo e etnólogo, fundador do estruturalismo, linha que revolucionou a abordagem sobre as relações sociais e cujos estudos tiveram bases no Brasil. Filho de pais judeus e franceses, mudou-se para a França com 1 ano. A carreira acadêmica começou na Sorbonne, onde estudou Filosofia. Nomeado professor na Universidade de São Paulo, viajou em 1935, pelo Brasil, ao lado da primeira mulher, Dina Lévi-Strauss, que também era etnóloga, onde dirigiu várias missões, em Mato Grosso e na Amazônia, experiência geradora da obra ‘Tristes Trópicos'.

De volta a Paris, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, foi convocado em 1939, obtendo dispensa no ano seguinte por conta de sua ascendência judaica. Depois da guerra e de um breve período como refugiado nos Estados Unidos, Lévi-Strauss defendeu na Sorbonne, em 1948, a tese ‘As Estruturas Fundamentais de Parentesco', publicada um ano depois e responsável por modificar de maneira definitiva o estudo das Ciências Humanas.

A partir das observações feitas no Brasil, Lévi-Strauss, propôs as relações de filiação e residência como novos eixos para analisar o homem em sua esfera social. Levou em conta mitos, organização familiar e hábitos alimentares, entre outros aspectos. Pelo estudo, as diferentes culturas não se criariam por obra do acaso, mas, sim, obedeceriam a uma ordem. As contribuições mais decisivas do seu trabalho podem ser resumidas em três grandes temas: a teoria das estruturas elementares do parentesco, os processos mentais do conhecimento humano e a estrutura dos mitos.

Capa: Tristes trópicosEm 1955, com a publicação de ‘Tristes Trópicos', Lévi-Strauss ampliou seu pensamento para além dos círculos acadêmicos. O livro é considerado sua autobiografia intelectual. "Sua obra é indissociável de uma reflexão sobre nossa sociedade e seu funcionamento. Tem um enfoque ecológico, antecipado, do mundo e dos indivíduos", escreve seu biógrafo, Denis Bertholet. Suas reflexões influenciaram várias gerações de intelectuais: como funciona uma sociedade, o que é uma cultura, como trabalha o espírito humano, são algumas das questões que tentou responder a partir das suas experiências de etnólogo. Suas respostas apaixonaram as ciências sociais e humanas durante o período áureo do estruturalismo, do qual ele é o principal representante.

Em 1973, foi eleito para a Academia Francesa. Entre suas obras destacam-se ‘Tristes Trópicos', ‘Estruturas Elementares do Parentesco', ‘Antropologia Estrutural' I e II, e ‘O Pensamento Selvagem'. No Brasil, a Professora Beatriz Perrone Moisés fez a tradução, para o português, de alguns livros importantes do antropólogo, como ‘Olhar, Escutar, Ler', ‘Antropologia Estrutural', ‘A Origem dos Modos à Mesa' e ‘O Cru e o Cozido'.

Aos 97 anos, em 2005, recebeu o 17º Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha. Declarou na ocasião: "Fico emocionado, porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele – isso é algo que sempre deveríamos ter presente". Claude Lévi-Strauss continua vivo. Sua obra é imperecível.

Vicente Freitas
http://www.artigonal.com/literatura1-artigos/claude-levi-strauss-4490147.html

Perfil do Autor
VICENTE FREITAS – Jornalista e escritor cearense – nasceu na cidade de Bela Cruz, Ribeira do Acaraú. Dedica-se à literatura e às artes plásticas. Licenciado em História e Geografia, pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. É autor dos livros: Almanaque poético de uma cidade do interior (1999); Nicodemos Araújo – uma antologia (2000); O carpinteiro das letras (2002); Esboço genealógico de Bela Cruz (2006); Bela Cruz – biografia do município (2011). Participou de várias antologias brasileiras. É verbete da Enciclopédia da literatura brasileira contemporânea, (volumes VII e IX, de Reis de Souza); Dicionário biobibliográfico de escritores brasileiros contemporâneos (1998), de Adrião Neto; Enciclopédia de literatura brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa, MinC/ABL/Global Editora (2001).

domingo, março 27, 2011

Dorian Gray abre o sótão: Orkut

Andrea Trompczynski
Quando a tela pintada por Basil Hallward em O Retrato de Dorian Gray, começou a mostrar os primeiros sinais de mudança, Dorian percebeu que teria que mantê-la escondida e trancada à chave. Quando fraquejava com vontade de voltar à vida anterior, a influência de Lord Henry Wotton encorajava-o. Um mestre paciente e seu pupilo. A beleza andrógina de Dorian permitia-o caminhar entre la crème de la crème da alta sociedade londrina. Quando Basil descobriu o quadro, Dorian matou-o.

E se houvesse uma maneira quase anônima de expor a tela, usando uma máscara parcial? E se cada monstruosidade na tela pudesse ser indicada pelo nome da "fraqueza moral" que a gerou, como os sete pecados capitais rotulados claramente? Escrito com todas as letras, sem mais vergonha, e fizesse as pessoas sentirem medo do que há dentro delas e de como uma influência qualquer pode fazer isto despertar, crescer? 

Por ouvir meu irmão falando tantos nomes de minha infância, professores, amores platônicos e tantas histórias que ele havia encontrado no Orkut, pedi que me convidasse, sim eu queria conhecer o que era. As primeiras horas foram como as de todo mundo que conhece o programa: saudades e memórias e pequenas frustrações. Por hábito comecei então a procurar a feiúra. Fácil. Mas, por estar há muitos anos longe de chats, fóruns e ter estacionado em alguns sites que admiro ou que me são indicados, assustei-me com o que vi. Não impressionaram-me os temas, que todos temos mais ou menos de Dorian Gray, mas pela imensa exposição dos quadros mais tenebrosos ser anunciada, festejada e aclamada. Os quadros de Basil.

É a minha geração falando na comunidade "Eu Vou Para O Inferno", onde discutem: o que é melhor "torturar alguém até a morte ou o espancamento?", como atropelar motoboys, ciclistas ou como foi delicioso o som de ossos partindo quando um homem (não um adolescente rebelde ou uma criança problemática) quebrou de propósito o braço da irmã. Alguns blefam, outros estão arrependidos. Há uma competição entre os melhores, que desprezam façanhas "pequenas". Ódio declarado a religiosos, crianças, animais e deficientes é lugar-comum. Os deficientes físicos têm sido a última piada por causa das para-olimpíadas. Alguém que parece o mediador avisa quando o candidato é digno do inferno, exalta os ânimos e os assuntos vão ficando mais pesados.

Anfetaminas, calmantes e toda sorte de remédios controlados que possam fazer dormir em uma crise de fome ou eliminar o apetite estão disponíveis em comunidades pro-Ana e Mia (comunidade "Pro-ana, Pro-mia em Português", tópico "remédios", apenas para citar um exemplo), apelidos para anorexia e bulimia, última moda de internautas preocupados com a "beleza a qualquer custo" uma onda gigante da qual ninguém, ou pouquíssimos, falam. Basta escolher um dos e-mails disponíveis de usuários vendedores que fazem a propaganda explícita (sempre com a preocupação de dizer que é um "amigo" o tal do vendedor), enviar comprovante de depósito bancário e aguardar a sorte, porque o remédio pode chegar ou não. E pode ser o remédio verdadeiro ou não, que dependendo de qual seja a composição química, é uma grande sorte. Ou, mais fácil ainda, diz um dos "conselheiros", basta ligar para um disque-farmácia, pagar com cartão e esperar a entrega. Garotos e garotas de 13, 14 anos trocam dicas de como comer e vomitar sem que os pais ouçam. Competem e fazem juntos jogos chamados no foodque são dias (dias!) em jejum. Alguns evitam até a água, para não "inchar". Quando outros entram tentando ajudar, sempre alguém que teve problemas sérios por desordens alimentares, eles respondem que são doentes, sofrem com isso, mas não querem ou não podem mudar.

(Não acredito que seja necessário comentar as comunidades sobre drogas. A situação é idêntica.)

Essa exposição mostra o que sempre existiu e foi abafado pelas aparências. O OrkutMultiply e muitos que virão deixam Wilde cada vez mais atual, mas penso que ele acharia fácil demais escrever O Retrato de Dorian Gray hoje, com monstros tão às claras (fácil para Oscar Wilde, é claro).

"Quanto mais o homem fala de si, mais ele deixa de ser si mesmo. Mas deixe que se esconda por trás de uma máscara, e então ele contará toda a verdade." (Oscar Wilde)

Quando você tiver tempo
Quando você tiver tempo de sobra e precisar ouvir a mesma piada muitas vezes para entendê-la, leia Wunderblogs. A repetição das mesmas idéias, mesmas piadas, mesmas poesias engraçadinhas e musiquinhas é entediante. Às vezes imagino que todos eles são uma só pessoa com vários nomes e sérios problemas em manter a memória recente. Chato, muito chato. Aonde anda Paulo Salles? 

A Conspiração
O senso de humor de alguns me fez esquecer um pouco a gastrite que os sem-nenhum-senso do Orkut proporcionaram. Em uma comunidade sobre conspirações, um rapaz paranóico tentava convencer outro de uma teoria de que estamos atuando em um reality show e alienígenas ou Deus se divertem nos assistindo. Um então deu uma resposta genial: "Fica quieto. Se eles souberem que sabemos, podem nos eliminar. Então, o que nos restará, posar nus?" 


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Andrea Trompczynski – O livro é um prazer sensorial para mim. Capas antigas, o cheiro, anotações. Meu sonho de consumo é uma primeira edição de Finnegan's Wake, com anotações, nas margens, da Lígia Fagundes Telles. Não há arte maior que a literatura. Não há arte mais intensa e nem mais difícil. É a única e verdadeira arte. Escrever. Vou em teatro, ouço música, sim. Mas até a HQ para mim está acima da música. Não adianta. No princípio era o verbo. Os homens são minha forma favorita de design. Não a humanidade, os homens. Anti-feminista convicta, acredito que as super-mulheres perdem o que há de melhor nos homens. Passei por essas fases de queimar sutiã e hoje vejo que certa estava minha avó, não se deve lutar contra a natureza. Tenho uma estranha sensação de déjà-vu quando conheço coisas novas, é sempre como se já tivesse visto. Como se nada fosse muito novo. Por ter andado por muitos lugares e vivido tantas coisas sem sair do meu quarto, agora finalmente vendo "de verdade e se mexendo" o mundo, não me deslumbro, não me fascino. Prefiro os livros.

domingo, março 20, 2011

Um conselho: não leia Germinal

Andrea Trompczynski
Procure em sua estante de livros este escrito em 1881 por Émile Zola:Germinal. Encontrou? Livre-se dele o quanto antes, melhor, queime-o. 
Germinal é doente. Feio. 
Aquele amontoado de homens-animais, trabalhando como escravos apenas pela fome, os mineiros da Voreux, há gerações. Quando Etienne, o idealista fervilhando de idéias de direitos e leis, chega e pede por um trabalho perguntando quem são os donos da mina-de-carvão, Boa-Morte – chamado assim por insistir em não morrer nos inúmeros acidentes das escavações – aponta um lugar no espaço, desconhecido, remoto, sem saber quem era que alimentava com sua própria carne. As mulheres parindo suas crias para ter mais uns contos, os filhos sempre contabilizados como mais alguns trocados para alimentar a casa. Elas não têm nome, são a mulher de alguém. Se deixam derrubar de costas atrás das árvores com qualquer mineiro que lhes faça esquecer a fome por alguns instantes.
Esquálidos, doentes, quase se pode ouvir os ossos batendo uns nos outros quando se deitam para amar, como Catherine e Etienne em seu leito de lama, ela feliz pensando que era o amor quando era um delírio de fome matando-a. Eles são feios e cheiram mal. Famintos, o tempo todo famintos. As crianças como porcos no chão catando cascas de batatas, uma refeição. E a frase mil vezes repetida: "se ao menos houvesse pão". Uma humilhação insuportável quando a mulher de Maheu tenta pedir cem ducados na casa cheirando a bolo dos Grégoire, donos da mina, bonitos como são os que não precisam pensar se terão o que comer. 
Quem quer ver isso, meu Deus? Quem pode acreditar que um homem chegue a tremer ao receber seu salário, pelo pavor de saber que não dará nem ao menos para o pão? Não, este livro é um absurdo.
O fracasso certo dos que tentam "mudar alguma coisa". Etienne começa a greve, incita o povo à revolução contra o que é impossível mudar. Lincham Maigrat, o dono do armazém que cobrava as dívidas impagáveis deitando-se com as filhas dos burros-de-carga. Arrancam-lhe os testículos, as mulheres-bichos, cuspindo e gargalhando, no dia sangrento dos saques. Preferiam matar a pedir esmolas. Qual o problema em ver os filhos pedirem esmolas? Afinal, somos todos tão caridosos e é um prazer dar a esmola e sentir-se regozijado. Fora da caridade não há salvação.
O velho Boa-Morte, senil e louco encontra a filha dos Grégoire, Cécile. Ele, degenerado de pai para filho pelo século de trabalho e fome, seu escarro negro do pó da mina de carvão e ela, gorda e branca, as bochechas rosadas dos que comem. Ninguém na sala, o velho, num desvario, estrangula a garota. 
Tudo em vão, Etienne é expulso da vila, por ser o culpado de inculcar nas pessoas aquelas idéias loucas de revoluções e esperanças. Eles voltam à mina, quietos. Dando graças a Deus por terem de novo seu trabalho de bestas. 
Por isso, queime-o sem dó nem piedade. Vamos admirar a beleza de um vaso grego. Leiamos os escritores de hoje. Estes sim, com os malabarismos de estilo, frases perfeitamente musicais e lapidadas, brilhantes como os dentes de Cécile, valem a pena serem lidos. Conteúdo? Quem se importa com conteúdo? Conteúdos são feios e esfomeados e tristes. Quem quer realidade? Que venham os concursos de prosa, de contos, de blogs. Que tenhamos vida longa e tempo para ler a todos os ourives da palavra. Temos uma multidão deles, dando o sangue como os mineiros da Voreaux. A multidão de contempladores de vasos gregos. Está aí a Era do Novo Parnasianismo da Prosa. Fora comGerminal e realidades!
"De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! Dois a dois! Primeira posição! Marcha! Todos para a Central do meu rancor inebriante!"
(Mário de Andrade)
Entreguem suas armas
A Campanha pelo Desarmamento da População é uma piada. As garruchas enferrujadas não valem nada e o governo paga por elas de 100 a 300 reais. A maioria é de armas que foram consideradas obsoletas pela lei anterior, chamadas armas de pólvora preta, e, pela nova lei não são mais. Ninguém entrega uma Walther, Glock ou Beretta para a campanha. Boa oportunidade para colecionadores e atiradores limparem o armário e ganharem um dinheiro extra (dica para colecionadores: pode ser usado para comprar besta e arco e flecha, que não são armas de fogo). Aquele ferro-velho não tem valor nem poder de tiro. Depois da campanha o número de latrocínios em São Paulo aumentou em 80% (o Paraguai é logo ali). Em 2005 haverá um referendo em que a população votará se é possível a comercialização de arma de fogo ou não. Estou até imaginando já a campanha da Globo e as passeatas, com pessoas vestidas de branco, balões e pombas da paz nos cartazes, além da Xuxa fazendo aquele sinal da pomba com as mãos. Os não-conhecedores de armas acham que estão fazendo grande coisa. Alguém está ganhando muito com isso.
O assunto do momento
O governo Bush será um estouro.
As pessoas mudam
Paulo Polzonoff Jr mudou. Foi arrogante, inquieto e algumas vezes fatalista como crítico no passado (e já era bom) e agora escreve melhor do que nunca. Lendo seus artigos, desde os antigos, muitos aqui noDigestivo, até os de hoje, acompanho a evolução intelectual e emocional de um jornalista que tem toda a minha admiração (palavra mais bonita para não ter que dizer a verdade: inveja). Ele não tem mais que mostrar erudição ou necessidade de aceitação, escreve sobre o que quer, o que gosta.
Meu assunto predileto
Algumas críticas superam a obra. Ler A Orgia Perpétua, estudo crítico de Madame Bovary, escrito por Mario Vargas Llosa é melhor que ler o livro de Flaubert.


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Andrea Trompczynski – O livro é um prazer sensorial para mim. Capas antigas, o cheiro, anotações. Meu sonho de consumo é uma primeira edição de Finnegan's Wake, com anotações, nas margens, da Lígia Fagundes Telles. Não há arte maior que a literatura. Não há arte mais intensa e nem mais difícil. É a única e verdadeira arte. Escrever. Vou em teatro, ouço música, sim. Mas até a HQ para mim está acima da música. Não adianta. No princípio era o verbo. Os homens são minha forma favorita de design. Não a humanidade, os homens. Anti-feminista convicta, acredito que as super-mulheres perdem o que há de melhor nos homens. Passei por essas fases de queimar sutiã e hoje vejo que certa estava minha avó, não se deve lutar contra a natureza. Tenho uma estranha sensação de déjà-vu quando conheço coisas novas, é sempre como se já tivesse visto. Como se nada fosse muito novo. Por ter andado por muitos lugares e vivido tantas coisas sem sair do meu quarto, agora finalmente vendo "de verdade e se mexendo" o mundo, não me deslumbro, não me fascino. Prefiro os livros.

quinta-feira, março 10, 2011

Nicodemos Araujo [1905 - 2011]

"Mesmo os grandes homens só são verdadeiramente reconhecidos e homenageados depois de mortos. Por quê? Porque os que elogiam precisam se sentir de algum modo superior ao elogiado (...)” Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem.

É com muita honra que participamos desta homenagem alusiva ao  poeta, dramaturgo, jornalista, genealogista e historiador-mor da Região do Baixo Acaraú, Manoel Nicodemos Araujo. Poeta que nasceu aqui na então vila de Santa Cruz, a 10 de março de 1905, hoje, a progressista cidade de Bela Cruz.

Em 1934, ele passou a morar na vizinha cidade de Acaraú, onde exerceu os cargos de Inspetor Escolar, Agente de Estatística e Secretário da Prefeitura. Foi ainda Vereador e assumiu, interinamente, o cargo de Prefeito, por diversas vezes.

Em consequência de seu entusiasmo pelo jornalismo, em 1933, fundou em Santa Cruz, juntamente com o companheiro Joca Lopes, um jornalzinho quinzenário, intitulado "ALVORADA", folha que circulou pontualmente até novembro de 1934. A 1º de janeiro de 1935, Nicodemos inscreve-se como jornalista, na Associação Cearense de Imprensa. A 19 de abril de 1956, a A.C.I deu-lhe a Carteira de Redator. Durante o período de 1º de maio de 1948 a 15 de fevereiro de 1958, desempenhou as funções de redator chefe do jornal "O ACARAÚ" que tinha por objetivo propugnar pelos legítimos interesses da Região do Vale do Acaraú.

Em 1935, publica seu primeiro livro de versos, sob o sugestivo título de "Harmonia Interior". Nesse pequeno volume de cem páginas ele inseriu trinta de suas produções, precedidas de duas cartas: uma de autoria de seu estimado amigo Dedek Fontenele, e outra do dr. João Ribeiro Ramos, com quem manteve correspondência e amizade por toda a vida.

Nicodemos Araujo foi um verdadairo autodidata, na expressão mais profunda do termo. Aprendido no lar paterno a carta de abc, ingressou na escola primária de sua terra natal  de onde saiu poucos meses após, porque o chamavam os deveres de chefe de família e de filho extremoso, órfão de pai, em plena juventude.

Nesta vila, baldo de recursos materiais, o jovem Nicodemos, para fazer face aos encargos da família, coloca-se no comércio local, vindo mais tarde a negociar por conta própria. Humilde. Muito humilde, o futuro escritor procura nos livros satisfazer aquela ânsia de saber que foi sempre uma característica do seu espírito. Tendo publicado "Harmonia Interior", em 1935. No ano seguinte ele enveredou pela História, lançando seu livro "Santa Cruz do Acaraú". E a partir daí, escreveu quase trinta títulos, com incursão pelo teatro, biografia e genealogia. Através dos seus livros, sentimos o quanto o poeta é observador. E o mundo que ele observa é o de seres humanos. Vivos. Através de sua obra sentimos também que para ele, o muito não é nada, quando quer o que não é bom; o querer há de ser são.

É este o cuidado que preside ao espírito do poeta, a chave do seu pensamento, da sua vida, da sua obra. Que o querer seja são: que encare as realidades de frente, que as aceite sem parcialidade.

Sua poesia é a exteriorização de uma tomada de consciência diante de um mundo inacabado. Porque o poeta sabe que só a indiferença ou a inconsciência podem ignorar o paradoxo deste mundo onde ombreiam a miséria e a grandeza; o bem e o mal; a virtude e o vício; a mesquinhez e a generosidade.

Mundo desconcertado que o poeta não rejeita, mas também não aceita passivamente. E é pelo caminho mais difícil  o de analisar esse mundo, recriando-o  que ele segue para compreendê-lo e dar-lhe uma nova medida, fugindo ao aparatoso engano de valores deslocados que a "opinião do vulgo" estabeleceu.

Sua obra é um trabalho fiel, circunstanciado e consciencioso de tudo quanto de mais importante aconteceu nestas plagas, desde o setecentos até os dias atuais. É, na verdade, como já disse o poeta Dimas Carvalho: a história da Tierra da Pescaria, dos espanhóis; da Barra dos Peixes, dos ingleses; do Rio das Garças, dos tupis, a quem poderíamos chamar de Rio das Graças. O nome de Nicodemos Araujo  acrescentado ao bem imenso que ele fez  transformou-se no patrimônio maior da nossa cultura matuta. Mesmo que não tivesse escrito nenhum livro, hoje ele seria lembrado. Dom Edmilson Cruz, o considera santo: Ele foi um justo como a lua é calma, Ele foi um santo sem pensar que o era".

A biografia de Nicodemos Araujo tem tais sutilezas que nunca se perde em ser recontada. E é por isso que mais uma vez estamos aqui, com muita alegria, dizendo às gerações futuras da nossa terra e a todos que se interessam pela história da Ribeira do Acaraú, que louvem para sempre o poeta e historiador das coisas gostosas da nossa gente, por todos nós muito querida.

Vicente Freitas

terça-feira, março 08, 2011

Caçulinha apresenta Giuliano Eriston

por editor | categoria de olho nele| tags 
Faustão recebeu no palco do Domingão, Giuliano Eriston , o menino que toca guitarra, bandolim e cavaquinho e que despertou a curiosidade e o encanto do maestro. Com 13 anos de idade e muita calma e prazer ao fazer música, Giuliano é de Bela Cruz, interior do Ceará, lugar que não reconhece (e repudia) seus artistas. Ele  tocou, ao vivo, no palco ‘Noites Cariocas’, ‘Wave’ e ‘Tico-Tico no Fubá’. Confira o talento desse jovem da música brasileira, junto com Caçulinha, tocando ao vivo.
Siga-nos: @domingaotvglobo

domingo, março 06, 2011

Ele é o Rei

Andrea Trompczynski
Tenho uma fascinação pelo sórdido e por algumas coisas doentias e feias. Para ficar mais moderno, direi trash. Apesar de preferir a expressão "Culto ao Feio". Faz parte deste meu hobby um prazer que é observar a expressão facial e corporal dos fanáticos quando estão cultuando ou falando sobre seus deuses. Seja o que for. Religiões, marcas, stars, Brizola... Posso ficar horas olhando para aquelas faces satisfeitas, embriagadas, aquele ar de quem tem todas as respostas, a paixão com que falam sobre seu objeto de adoração. E como estes apaixonados ficam feios, trash, divertidos.

O fanatismo preenche aquele buraco na alma com o qual todos nascemos, e desesperados tentamos esconder, tapar, fingir que não temos. O anestésico perfeito (e, claro, uma fábrica de dinheiro para os que não estão tão ceguinhos e anestesiados assim).

Meu favorito e do qual sinto muita saudade de assistir o programa na televisão é o R.R. Soares. Ele é o rei! Uma espécie de Sílvio Santos da Igreja Internacional da Graça de Deus. Ele é Bispo Macedo da Igreja da Graça e, para mim, um gênio do marketing para as massas. Tem o magnetismo que os pastores da Universal perderam com os cursos de oratória que fizeram, agressividade do tom de voz e muita ênfase em "encostos" (por falar nisso, no último programa desses que vi numa madrugada no Brasil, descobri que tenho uns dez encostos porque tenho todos os sintomas que o pastor falou que indicam a presença de um espírito maligno junto de nós. Caso o leitor queira saber, alguns são: dores-de-cabeça freqüentes, insônia, depressão, azar no amor, doenças, cigarro ou outro vício qualquer, e, essa é covardia, dívidas. Viu só, fizeram um trabalho para você e é por isso que sua conta bancária está assim. Mas é só ir na Sessão do Descarrego que tudo se resolverá, caro leitor, e você se tornará um próspero empresário como o Sr. Pereira Gomes que era alcoólatra, vivia em boates e jogava e hoje é um respeitável pai de família).

R.R. Soares descobriu a melhor maneira: não pode assustar o povo, deve-se falar calmamente, hipnoticamente, como um velho pai dando conselhos. Ele tem o carisma. É o homem com mais tempo de programação na tevê, 100 horas semanais em quatro redes de televisão. Somente para a Bandeirantes ele paga 2 milhões de reais por mês. Nos anos 70, Soares foi co-fundador da Universal com Edir Macedo e após divergências, fundou a Igreja Internacional da Graça de Deus, cujo crescimento tem assustado a Universal, que para revidar coloca os programas no mesmo horário em redes concorrentes.

Mas não é meu assunto o show das igrejas evangélicas na televisão, a concorrência com a Universal, os rios de dinheiro, os exorcismos e apelações e o domínio sobre a mente do povo desesperado com dívidas ou doenças, que isso todo mundo já sabe. O ponto é: entendo perfeitamente porque as pessoas ficam tão felizes na Igreja dele. Entendo perfeitamente porque as velhinhas choram e os casais se abraçam, juram amores eternos e perdoam passados escusos. Entendo porque nos intervalos correm para assinar os cupons para ser mais um "sócio-colaborador" ou assinar a Revista da Graça ou comprar CDs daGraça Music. Ele é tão confortador... Esquece-se de tudo assistindo oShow da Fé. Os olhares fascinados, os hinos cantados de braços erguidos, êxtase total, lágrimas e mais lágrimas, arrependimentos e promessas de vida nova. É o trash mais perfeito do mundo por ser inconsciente da sua "trashilidade".

Para quem ainda não se convenceu que ele é o maior, depois desta se convence ou desisto: no fim de todos os cultos ele pergunta se alguém recebeu alguma cura, se sentia alguma dor e a dor desapareceu. Disputam o microfone para contar as graças recebidas, e então, ahnnnnn, o final perfeito, ele pergunta se caroços, sim, caroços, sumiram nesta noite, e as senhoras e senhores mostram os braços ou apertam o corpo mostrando o lugar onde estava o caroço que sumiu. E ele repete a palavra caroço umas cinco vezes em cada caso. Que tamanho era o caroço, minha irmã? Há quanto tempo o senhor sofria com esse caroço, irmão?

Tem palavra que mais simbolize o Culto ao Feio do que "caroço"?

Brazilian Boys Naked
Onde é que o nome "Brasil" mais aparece aqui? Ham? Ham? Escort girls (antigamente tinha outro nome, acho que era prostituta); surfistas cariocas pelados em vídeos por $19,90; carnaval carioca em cenas quentes por $15,99; biquínis brasileiros e mulatas sambando na televisão. Eles pensam que somos todos tão lindos e malhados no Brasil e que todas as mulheres tem a bunda da Scheila Carvalho. E que somoshot. Somos? Um dia me perguntaram se existia pizza no Brasil. Que o céu caia sobre minha cabeça se eu estiver mentindo, juro. Acho que somos uma porcaria mesmo e merecemos a fama de selvagens. Bem feito para nós, índios botocudos. Quando meu inglês melhorar vou mentir que nasci na Polônia. Na maioria das vezes é constrangedor quando perguntam, por perceberem o sotaque where are you from? abaixo a cabeça resignadamente para responder baixinho, torcendo para que a máquina de espressos faça bastante barulho e o senhor alto, branco, católico e bem-educado não ouça minha triste resposta. 
Ah, tive uma idéia, posso dizer Portugal!

Os Evangélicos Que Aqui Gorjeiam Não Gorjeiam Como Lá
Passei uns dias de "molho" por motivos de saúde e assisti muita televisão. Os pastores daqui não são bons como os daí. São tão calminhos, não gritam e nem fazem exorcismos de manhã. Tão sem graça... E até os espíritos malignos são comportadinhos, nem se manifestam nas sessões de culto como os nossos daí, que são rebeldes e gritam e fazem literalmente "o diabo". Que engraçado, talvez aqueles onze círculos do inferno de Dante Alighieri sejam cada um embaixo de um lugar e por isso os demônios são culturalmente diferentes e, claro, os que ficam embaixo da América do Norte são mais educados, sei lá. 

O Poderoso Brando
Marlon Brando era uma exceção à minha teoria de que certos artistas deveriam fazer o favor de morrer com uns trinta, trinta e poucos anos. Para não dar vexames depois e matar uma obra que poderia ser perfeita. Marilyn sabia disso. James Dean, Mário de Sá-Carneiro. Quem diria que o Paul McCartney ficaria tão chato? E o Michael Jackson (este deveria morrer aos vinte) tão incrivelmente louco? E alguns tropicalistas e roqueiros dos anos 70 e 80 tão mentalmente adolescentes precisando "chocar" o tempo todo? E que a Hebe usaria mini-saia com quase oitenta anos? Para não falar da Brigitte Bardot que é a pior de todas (se o guaxinim azulado do oeste do Sri Lanka está em extinção, nada mais natural, que se extingua, mas, o guaxinim azulado do oeste do Sri Lanka tem uma linda pelagem, é preciso fazer passeatas, campanhas, ficar pelado em protesto à extinção do guaxinim azulado do oeste do Sri Lanka). Mas nunca Marlon Brando, ele não se tornou uma piada. Até mesmo em seus chiliques em estúdios e fugas da enfermeira nas madrugadas para buscar sorvete no supermercado, havia aquele charm, aquele olhar. Ele era mais.

“A violência está em todas as partes do mundo. Acho que a indignação é a causa daquilo que se diz e se pensa e também é perigosa. Por que matamos uns aos outros? Vou lhe dizer por que motivo. Tudo o que se tem a fazer é tirar uma gota de água de um lago no verão, colocá-la sob o microscópio para ver aquelas criaturas microscópicas matando umas às outras. A vida é matança”. (Marlon Brando) 
assado. 


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Andrea Trompczynski – O livro é um prazer sensorial para mim. Capas antigas, o cheiro, anotações. Meu sonho de consumo é uma primeira edição de Finnegan's Wake, com anotações, nas margens, da Lígia Fagundes Telles. Não há arte maior que a literatura. Não há arte mais intensa e nem mais difícil. É a única e verdadeira arte. Escrever. Vou em teatro, ouço música, sim. Mas até a HQ para mim está acima da música. Não adianta. No princípio era o verbo. Os homens são minha forma favorita de design. Não a humanidade, os homens. Anti-feminista convicta, acredito que as super-mulheres perdem o que há de melhor nos homens. Passei por essas fases de queimar sutiã e hoje vejo que certa estava minha avó, não se deve lutar contra a natureza. Tenho uma estranha sensação de déjà-vu quando conheço coisas novas, é sempre como se já tivesse visto. Como se nada fosse muito novo. Por ter andado por muitos lugares e vivido tantas coisas sem sair do meu quarto, agora finalmente vendo "de verdade e se mexendo" o mundo, não me deslumbro, não me fascino. Prefiro os livros.

quinta-feira, março 03, 2011

Cid inaugura Escola de Educação Profissional em Acaraú

Cid Gomes e comitiva de Bela Cruz
A comunidade do município de Acaraú, localizado na região norte do Ceará, recebeu nesta quarta-feira, dia 2, às 19 horas, a nova sede da Escola Estadual de Educação Profissional, EEEP Marta Maria Giffoni de Sousa. Construída no padrão estabelecido pelo MEC, a unidade tem capacidade para atender 540 alunos, em tempo integral (das 7 horas às 17 horas). Foram investidos recursos no valor de R$ 9,2 milhões do Tesouro Estadual e do Governo Federal. A solenidade de inauguração contará com as presenças do Governador Cid Gomes e da secretária Izolda Cela.

No novo espaço, os jovens terão acesso aos cursos técnicos de Informática, Enfermagem, Hospedagem, Agronegócio, Aquicultura e Guia de Turismo. A unidade funcionou durante dois anos em um prédio patrimonial e, agora, ganha uma estrutura mais adequada, de 4,5 mil metros quadrados, composta de 12 salas de aula, auditório para 201 lugares, biblioteca e bloco pedagógico-administrativo. Terá, também, laboratórios de Línguas, Informática, Química, Física, Biologia e Matemática e laboratórios tecnológicos. Dispõe ainda de cozinha e refeitório, vestiários e sala para o grêmio.


A comunidade escolar contará ainda com uma quadra poliesportiva e um teatro de arena com estacionamento para 40 vagas. A construção atende à concepção de qualidade prevista pelo MEC para escolas de educação profissional. A obra foi supervisionada pelo Departamento de Edificações e Rodovias do Ceará (DER), órgão vinculado à Secretaria da Infraestrutura (Seinfra).

Criada em 2008, a rede estadual de educação profissional tem 62 unidades implantadas em todo o Estado, onde estão matriculados 19 mil jovens. O objetivo das EEEPs é a formação profissional técnica integrada à educação básica, tendo em vista a inserção qualificada dos jovens no mundo do trabalho. Nos próximos dias 4 e 10 de março, serão inauguradas, respectivamente, as Escolas de Tianguá e Maracanaú.

Diferencial


Um grande diferencial das Escolas Estaduais de Educação Profissional concentra-se no seu modelo de gestão que se fundamenta no protagonismo juvenil, na formação continuada, na atitude empresarial, na corresponsabilidade e na replicabilidade. Diante dessas premissas, o jovem deve ser entendido como protagonista em todas as ações da escola e construtor do seu projeto de vida. Deve haver disposição dos educadores para um processo contínuo de aperfeiçoamento profissional e de compromisso com o seu autodesenvolvimento; foco no alcance dos objetivos e resultados pactuados. Os Educadores, pais, alunos, Estado e outros parceiros também devem estar comprometidos com a qualidade do ensino e da aprendizagem; e capacidade de reprodução do modelo.

O evento reuniu toda sociedade de Acaraú e Municípios vizinhos ( Prefeitos, vereadores, lideranças). Estiveram presentes o Prefeito de Acaraú, Sr. Pedro Fonteles, e os Deputados Manoel Duca da Silveira e João Jaime Neto, Secretária de Educação do Estado - Maria Izolda Cela de Arruda Coelho –alunos, pais de alunos, núcleo gestor, professores e funcionários da Escola.

A Prof. Carmem Rita Giffoni, filha da educadora Marta Giffoni, agradeceu a homenagem prestada ressaltando a importância da escola, de modalidade profissional, no Município. O Governador Cid Gomes, encerrando o evento, usou da palavra, falando sobre o valor da Educação, como evolução humana de crescimento.

A EEEP Marta Maria Giffoni de Sousa, inserida e comprometida com as Metas do Governo mantém cursos Técnicos de: Aquicultura, Agronegócios (Fruticultura), Informática, Enfermagem, Turismo, assumindo também o desafio de promover a articulação do currículo do ensino médio com a formação para o mundo do trabalho.
Fonte: Vicente Freitas / Governo do Ceará