Andrea Trompczynski |
Também morei numa cidade de colonização britânica por um certo tempo, e percebi que o aprendizado da língua inglesa é bem mais que apenas um idioma. É uma questão de educação, polidez e respeito ao próximo. No início, a rudeza tende a gritar contra o excesso de boas-maneiras e saímos a defender nosso país. Depois, a britanidade vence. A maneira como eles se importam se você está ou não apreciando seu chá não é uma superficialidade, eles realmente estão se importando com isso. Aquele círculo de individualidade que aprendemos nas aulas de inglês, que não se deve invadir, cerca de um metro, torna um abraço algo de um valor inestimável. Há coisas engraçadas na língua, como os adultos entarem sempre indo up em tudo: wake up, get up, e as crianças, forçadamente, tendo que irem down: slow down, calm down, sit down.
E se não fazem certas coisas que por aqui andam fazendo, é por elegância e respeito ao próximo, palavras que, para alguns, nada significam. A polidez, como o nome diz, é, sim, superficial, mas, como hábito, ela se torna uma característica profunda da personalidade e quando eles lhe perguntarem se você está apreciando seu dia, creia, eles desejam realmente saber.
Se o Lula falasse inglês e tivesse assimilado um pouco da cultura
britânica, teria me poupado uma grande vergonha. Meu amigo aqui estava quando o
Lula apareceu numa entrevista ao Fantástico. "Este é o seu
Presidente?", ele perguntou. Baixei os olhos, dizendo que sim,aquele era
meu presidente. Ele poupou-me, sem dúvida, dos comentários, mas nem foi
necessário dizer que Lula se sentava como se estivesse num churrasco com amigos
na laje de sua casa. Gesticulava por demais para um Presidente da República.
Depois, no mesmo programa, Lula apareceu falando em português para uma platéia
de língua inglesa. Vexame, o presidente de uma nação continental não falava
inglês. Por sorte, meu amigo não entendia tão bem o português para perceber os
deslizes de nosso presidente até mesmo na língua pátria.
Antes do programa terminar, tentei diminuir o problema e contar a ele a história de tempos áureos onde tivemos um presidente sociólogo, que perguntava, antes de discursar, fosse aonde fosse: "em que língua quereis que vos fale?", mas, começara a reportagem sobre o dinheiro dentro das cuecas e malas e pensei que ele não iria mesmo acreditar. Fui para a rede dormir, sem ao menos tirar a tinta de beterraba do corpo.
Antes do programa terminar, tentei diminuir o problema e contar a ele a história de tempos áureos onde tivemos um presidente sociólogo, que perguntava, antes de discursar, fosse aonde fosse: "em que língua quereis que vos fale?", mas, começara a reportagem sobre o dinheiro dentro das cuecas e malas e pensei que ele não iria mesmo acreditar. Fui para a rede dormir, sem ao menos tirar a tinta de beterraba do corpo.
Um livro esplêndido
Pequeno Dicionário de Percevejos, coletânea dos melhores contos de Nelson de
Oliveira, tem somente um defeito: poderia ser mais resistente. Porque eu o
apertei em muitos momentos, acariciei sua capa, andei com ele pela rua junto ao
coração, por isso, ele está a se desmanchar um pouco. Nelson, artesão e
musicista da palavra, não é um homem, é vento, como o menino-vento que foi no
conto "Éramos Todos Bandoleiros". Tem que se ler em voz alta, como os
loucos.
"Literatura é morder o próprio rabo – em público. E há senhores que fazem isso há tanto tempo – às favas o pudor! – que já passaram a embolsar, sem enrubescer, altas somas de dinheiro pelo espetáculo. Literatura é pão e circo – instante em que o grotesco deixa de ser obsceno." (Nelson de Oliveira)
"Literatura é morder o próprio rabo – em público. E há senhores que fazem isso há tanto tempo – às favas o pudor! – que já passaram a embolsar, sem enrubescer, altas somas de dinheiro pelo espetáculo. Literatura é pão e circo – instante em que o grotesco deixa de ser obsceno." (Nelson de Oliveira)
Um livro péssimo
Alguns tradutores deveriam ser banidos: "Algumas redes rasgadas
secavam ao sol", em O Enigma Maria Madalena, de Gerald
Messadié, tradução de Maria Helena Kühner, fez-me lembrar de de "o rato
roeu a roupa do rei de Roma". "Três homens calafetavam um barco com
nafta", lembrou-me outra dessas brincadeiras de infância. Mas, cada livro
tem o tradutor que merece. Este conta a história de um Jesus que não morreu na
cruz, ficou curando as feridas, protegido e escondido por todos e viveu até a
velhice. Prefiro a Bíblia. Ou, se é para criar histórias sobre Jesus, leio O
Código da Vinci.
Inglês Enrolation
Num comercial de cerveja, o rapaz se depara com uma linda loira
americana e seu cérebro procura palavras em inglês para poder flertar com a
garota. Obviamente, não encontra e decide pela língua "enrolation".
Descobri que a "enrolation" não é uma opção preguiçosa apenas do
rapaz. Os empregados das companhias aéreas têm um inglês sofrível, e, pelo que
tenho visto, a maioria das pessoas está como a personagem do filme Terminal.
Ainda sobre o filme Terminal
Vemos a Krakhovia explodindo e nem sequer sentimos vergonha. Dizemos,
orgulhosos: "oh, é a nossa casa, as praias são lindas. E tem carnaval e
futebol." Quanto a mim, volto em breve para aquela linda cidade de
colonização britânica. Sem levar nenhuma saudades da Krakhovia a explodir. Este
país é só carnaval e futebol.
__________________________
Andrea Trompczynski – O livro é um prazer sensorial para mim.
Capas antigas, o cheiro, anotações. Meu sonho de consumo é uma primeira edição
de Finnegan's Wake, com anotações, nas margens, da Lígia Fagundes
Telles. Não há arte maior que a literatura. Não há arte mais intensa e nem mais
difícil. É a única e verdadeira arte. Escrever. Vou em teatro, ouço música,
sim. Mas até a HQ para mim está acima da música. Não adianta. No princípio era
o verbo. Os homens são minha forma favorita de design. Não a
humanidade, os homens. Anti-feminista convicta, acredito que as super-mulheres
perdem o que há de melhor nos homens. Passei por essas fases de queimar sutiã e
hoje vejo que certa estava minha avó, não se deve lutar contra a
natureza. Tenho uma estranha sensação de déjà-vu quando
conheço coisas novas, é sempre como se já tivesse visto. Como se nada fosse
muito novo. Por ter andado por muitos lugares e vivido tantas coisas sem sair
do meu quarto, agora finalmente vendo "de verdade e se mexendo" o
mundo, não me deslumbro, não me fascino. Prefiro os livros.
Interessante o desenvolvimento desse ponto de vista sobre Lula, a lingua e cultura inglesas, etc. Achei muito interessante a analise de alguns usos de "wake up, get up, e as crianças, forçadamente, tendo que irem down: slow down, calm down, sit down", etc. Bom trabalho.
ResponderExcluir