quinta-feira, maio 24, 2012

Misturar-se à ponte

Ecos por un grito (1937) - David Alfaro Siqueiros 
Ponte – debaixo da ponte: 

frio – noite fria, escura, deserta; 

uma paisagem, ausência de paisagem.


Entre eu e eu, na brecha que dá pra avenida,

rua fechada, um beco, sem número, sem rumo:

Indistinto. Ambarino. Gris.

Irreversivelmente sem saída.


Os habitantes do meu corpo – os piolhos – dançam

no couro cabeludo: cabeça, tronco e membros,

a fazer cócegas, a ferir.


Noite: ferida noite, na ponte:

sem roupas, aos trapos,

sardas às costas,

debaixo da ponte: sem ponto, sem ponte.


Animal, roedor, de toga:

Inflige ao transgressor a sua transgressão.

Perdoa ao Homem da ponte: a Vítima

das vias nodosas da favela, do país.


Vê: outras formas se multiplicam,

vampiros com asas, um vermelho escuro

jorrando de parte nenhuma. Uma estrela?


Vicente Freitas

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