domingo, maio 08, 2011

Ter ou não futuro à luz de Hegel

Andrea Trompczynski
Para Hegel, o futuro é o progresso, o devir. O devir é o ser em movimento, as rodas da engrenagem do pensamento indo e indo, barulhentas, aquele zumzum das conexões em nossa cabeça.

Qual é a chave então para que se progrida a até o ser para si? Tcharam ram ram ram! As leis, arrá! Descobrir as leis que governam o entendimento, a sensibilidade, a ação. Então, estou nem ligando, nesse estágio, se a sociedade impõe que deseja que eu seja rica, peituda e feliz como um comercial de margarina. Estou totalmente já desligada do dever-ser, já não me importa mais, as rédeas do status social se arrebentam totalmente. Inclusive, aqui estamos naquela tênue linha entre lucidez e loucura, percebo que já se romperam também as rédeas da razão e principalmente da razão socialmente aceita – que é medíocre e burra.

O salto é livre, jamais imposto, somente proposto. Nesse estágio, já não se baseia mais no outro. Nesse estágio, tudo é apenas – inclusive, e principalmente, o conhecimento e os livros – sugestão. Aqui, nós temos o raciocínio verdadeiro, o pensar puro. Puro! Mas, essencialmente é se descobrir o modus operandi de uma certa dinâmica da vida e inventar outra. Assim, bem doido: não gostei, vou criar outra. Mas, ainda assim, aqui nesse ponto é preciso reconhecer que se depende de certas coisas, afinal, somos as tais ovelhas e precisamos sobreviver, precisamos de água, comida e calor para isso. Infelizmente, no entanto, não é uma escada de progresso estanque, linear.

O salto é livre, jamais imposto, somente proposto. Nesse estágio, já não se
baseia mais no outro. Nesse estágio, tudo é apenas – inclusive, e principalmente, o 
conhecimento e os livros – sugestão.

Podem-se intercalar as fases. Posso ter dias mais primitivos, ou momentos ou segundos. Como o tempo também não é linear. Não se sabe exatamente ainda a forma gráfica de representação do tempo, apenas se tem certeza de algo: não é linear. Terei um futuro? – pergunto novamente. Posso, sim, ter um futuro agora e posso voltar a ser uma cebola irracional em poucos segundos e não terei futuro – intelectual, subentendido, já que o outro não me desperta interesse nenhum – algum. Não é linear, não é progressão pura e simples.
Os estágios convivem todos dentro do ser e, ao mesmo tempo em que somos a ponta da evolução, somos a cebola. A droga de estar na fase para-si é a negação total. Não sou mais o oposto dos meus pares, não tenho mais referências. Nos sentimos sem nome, sem rótulo, sem casa, sem ninho nenhum, sem um lugar no qual sentir igual aos outros. E precisamos, na vida, sentir identificação, ter “espelhos”, pelo menos é o que dizem os especialistas – e membros do Rotary Club. Então, há um futuro a nos esperar, depois de tudo. Não linear ou com degraus para escalar, mas, ainda assim, a possibilidade de um tempo, ainda assim um futuro. A superação. Uma ordem de realidade mais completa. Caramba, eu quero isso. Ambiciono isso. Aqui, eu acredito que, enfim, compreendemos. O quê? Gostaria muito de saber. Sim, tenho um futuro e ele coexiste com meu presente. Ele está aqui, lá e acolá e a qualquer momento vou senti-lo. Hegel, querido, sua visita foi um prazer. 
Friedrich Hegel 
Fascinado pelas obras de Spinoza, Kant e Rousseau, Friedrich Hegel (1770-1831) é o filósofo que, na visão de alguns teóricos, representa o ápice do idealismo alemão do século XIX, fator que teve profunda influência no materialismo histórico de Karl Marx. A totalidade, o saber absoluto, o fim da história, ou o filósofo que pensou o Estado. São inúmeras as variáveis de interpretação do pensamento hegeliano na atualidade. Difícil é enquadrá-lo em apenas um.


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Andrea Trompczynski – O livro é um prazer sensorial para mim. Capas antigas, o cheiro, anotações. Meu sonho de consumo é uma primeira edição de Finnegan's Wake, com anotações, nas margens, da Lígia Fagundes Telles. Não há arte maior que a literatura. Não há arte mais intensa e nem mais difícil. É a única e verdadeira arte. Escrever. Vou em teatro, ouço música, sim. Mas até a HQ para mim está acima da música. Não adianta. No princípio era o verbo. Os homens são minha forma favorita de design. Não a humanidade, os homens. Anti-feminista convicta, acredito que as super-mulheres perdem o que há de melhor nos homens. Passei por essas fases de queimar sutiã e hoje vejo que certa estava minha avó, não se deve lutar contra a natureza. Tenho uma estranha sensação de déjà-vu quando conheço coisas novas, é sempre como se já tivesse visto. Como se nada fosse muito novo. Por ter andado por muitos lugares e vivido tantas coisas sem sair do meu quarto, agora finalmente vendo "de verdade e se mexendo" o mundo, não me deslumbro, não me fascino. Prefiro os livros. 

Um comentário:

  1. Interessantíssimo texto!! Com todo esse turbilhão de informções, muitas delas, é claro, supérfluas e inúteis, vamos caminhando rumo a um futuro com o qual possamos, quem sabe, um belo dia, nos identificarmos uns com os outros, sem termos que nos alimentar por meros preceitos, estereótipos e tipos falsos de humanidade. Beleza!!!

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