segunda-feira, novembro 21, 2011

Cadê o Padre Leriano?

Vicente Freitas e Padre Aureliano Diamantino Silveira
Após concluir o Curso Normal, voltei ao colégio para continuar o Curso Técnico. No início de cada ano escolar, geralmente ocorrem mudanças, o que aconteceu no curto período de férias em que estive em casa. A capela ganhara um novo capelão. O antigo passara a ser o vigário da Igreja Matriz em substituição ao que se consagrara Bispo da Diocese. O novo capelão era um jovem padre de 27 anos, com um rico cabedal de conhecimentos e nobres ideais. Ali, seria o seu novo campo de ação, um apostolado junto à juventude estudantil daquela Escola abençoada pelo brilhante trabalho das Irmãs de Caridade.
          Pelo período de um ano, tive o prazer de conviver com essa personalidade incrível, dotada de acentuado carisma espiritual, capacidade intelectual e arguta inteligência. Durante a celebração dos atos litúrgicos, percebía-se o grau de virtudes que aureolavam aquele coração cheio do amor de Deus. Paciência, humildade, caridade tornavam-no uma pessoa querida por todos os que dele se aproximavam. Nascera com o dom da oratória, percebendo-se a facilidade de expressão em linguagem rebuscada ou coloquial, sem perder a eloquência. Uma expressão que sempre empregava em seus sermões ou palestras era: "... Depois da tempestade vem a bonança, depois da bonança vem a tempestade e depois da tempestade vem novamente a bonança".... Repetia várias vezes, talvez para gravar em nossos corações uma mensagem de fé e esperança diante das dificuldades da vida, que o importante é não desistir, levantar após cada queda e vencer as adversidades.
          Um dos trabalhos que desempenhou com dedicação e amor, foi junto à JECf (Juventude Estudante Católica Feminina) da qual fiz parte e que contribuiu para a formação de  muitas jovens estudantes do meu colégio. Nossas reuniões tinham como objetivo exercer apostolado entre os jovens, levando a Palavra de Deus e convidando-os à prática do bem com base nos ensinamentos do Senhor Jesus. Eram momentos de atividade sadia em que o nosso orientador irradiava todo o seu potencial carismático e pleno de sabedoria.
          Todos os dias, após a Santa Missa, as Irmãs ofereciam-lhe o café-da-manhã que era servido por Dª Antônia, uma senhora idosa, magra, de cor negra e cabelos crespos grisalhos. Sempre que procurava por ele, ia perguntando a quem encontrava: “Cadê o Padre Leriano? Você viu”? Fazia isso tantas vezes que já estava virando apelido. ”Cadê o Padre Leriano”? “Bom dia, Padre Leriano”. O nosso Capelão encarava isso com o senso de humor que lhe era peculiar. Às vezes, dizia rindo: “Chegou o Padre Leriano”! Um dia, após faltar à Missa, chegou ao colégio um pouco abatido, com um lenço em volta do pescoço, um tanto rouco. Tinha um chapéu na cabeça e usava um guarda-chuva. Ao perguntar o que sentia, respondeu, todo encolhido a um canto da sala: “Ah! minha amiga, o Padre Leriano estava encamarinhotado, com febre”. Sair naquele frio intenso da serra da Ibiapaba, não lhe era mesmo conveniente.

Durante um ano convivi com esse virtuoso apóstolo do bem, o grande servo de Deus, Padre Aureliano Diamantino Silveira, filho de Bela Cruz-CE, que deixou no meu colégio, em São Benedito, um terreno bem preparado para o rebanho do Senhor Jesus. Tenho certeza de que todas as pessoas que estiveram sob sua orientação, agradecem a Deus pela sua dedicação, sabedoria e amizade.
          Há pouco tempo, encontrei-me com uma ex-colega da JECF, aqui na praça do Ferreira, que no meio de várias recordações, me perguntou: “Você sabe por onde anda o Padre Leriano”? Rimos bastante, com lágrimas de saudade, rolando pelas faces.


Maria de Jesus A. Carvalho

Um comentário:

  1. Ao procurar matérias para postar no Acaraú Online me deparo com este artigo, coincidência ou não, em 2007 meu irmão Luciano Rios foi deixar o Pe Aureliano na Rodoviária, depois dele visitar papai Arimá Silveira seu primo e amigo, foi a ultima vez que o Aureliano e Luciano vieram à Acaraú pois meu irmão faleceu neste mesmo ano justamente hoje 22 de novembro e o Padre faleceu em 2008.

    Que eles gozem da vida eterna junto de Deus!

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